Chegou hoje ao fim a dupla mais inconsequente, e irritante, que passou pela política portuguesa. Em nome de uma alegada “solidariedade ou cooperação institucional” (e também a bem de uma hipotética boa prática “conchunal”), Marcelo e Costa andaram por aí, durante mais de oito anos, em permanentes passos de dança que, ora por excesso ora por defeito, redundaram em muito pouco de útil para o País. Pior: a hipocrisia daquela relação esteve sempre à vista, às vezes quando se percebia que sorriam entre si mas um estava a fazer corninhos por detrás da cabeça do outro e outras vezes quando se acabou por perceber que chegara a hora do afrontamento e que cada um iria usar de todos os meios ao seu alcance para provocar até eliminar (politicamente, entenda-se!) o odioso parceiro que finalmente estava pronto para receber a respetiva dose. Seria fastidioso recordar aqui os incontáveis episódios demonstrativos do que deixo dito, todos se lembrarão de muitos deles e de quanto imperou naqueles momentos de (des)encontro o disparatado, o ridículo, o fingido e o cínico. O que voltou a ser visível hoje, apenas se notando por acréscimo uma espécie quase impercetível de desconfiado desconforto na atitude do Presidente espertalhão e uma espécie quase percetível de gozo escondido que está na massa do sangue do ainda Primeiro-Ministro – na realidade, e se não quisermos encarar o ato de Costa como meramente inocente e institucional e se admitirmos que deverá haver mesmo algo mais para lá do seu valor facial, como tende a ser o meu caso, Costa tem interesse em manter a porta de Belém entreaberta (designadamente por razões bruxelenses, mas também judiciais e mistas) e Marcelo não tinha forma publicamente airosa de escapar ao convite para presidir ao último Conselho de Ministros do Governo que quis dispensar (ademais com o inevitável PRR, os incontornáveis sem-abrigo e o resto a que Costa entendeu que ele tinha direito na agenda). São precisos muitos órgãos (estômago, rins, intestinos, etc.) a funcionar plenamente para se ser político nestes tempos de tão dissimulada expressão da democracia, mas assim é e até parece que afinal tudo está bem quando acaba bem...
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