quinta-feira, 28 de março de 2024

E COMO ESTAMOS DE PRODUTO PER CAPITA À PARIDADE DOS PODERES DE COMPRA?

 


(Em dia de passagem de pasta de governo PS para o da AD, cuja composição é a todo o momento esperada, vale a pena aproveitar a publicação da chamada “flash estimate” que o EUROSTAT publica para o ano de 2023, relativa ao PIB per capita dos 27 à paridade de poder de compra. Esta medida comparativa, pese embora todas as críticas conhecidas quanto à incapacidade do PIB medir a perceção do nível em que a atividade económica se encontra e quanto à própria metodologia de cálculo das paridades de poder de compra, continua a ser a de utilização mais fácil. Se combinada pelo menos com os dados da distribuição do rendimento entre grupos de população, dificilmente esta medida será apeada nos próximos tempos e com ela teremos de conviver o mais alegremente possível. Isso não implica abandonar os esforços para uma medida mais consistente do bem-estar material dos indivíduos. Neste tipo de gráficos, é impossível resistir à tentação de olhar para quem está acima e para quem está abaixo, não esquecendo a ambição de reconhecer que, embora todos se movam, é necessário ganhar lugares na competição.)

Os valores agora publicados respeitam a uma extração de dados de produto e população de 11.03.2024 e utilizam as paridades mais recentes possíveis, as quais dada a variação dos níveis de preços nos 27 e consequente possível alteração de preços relativos, estarão elas próprias em modo de alteração.

O Luxemburgo e a Irlanda continuam a ser os “outlyers” da distribuição, mas os serviços do EUROSTAT apressam-se com competência a arrefecer os ânimos mais exaltados do benchmarking (e em Portugal a Irlanda é pau para toda a colher): (i) O elevado nível do PIB per capita do Luxemburgo deve-se em parte ao peso elevado de trabalhadores transfronteiriços no emprego total, que não são considerados na população residente, de modo que contribuem fortemente para o produto mas não integram o denominador da população; (ii) por sua vez, o nível elevado do PIB per capita na Irlanda deve-se à presença de empresas multinacionais de grande porte que detêm a propriedade intelectual, aumentando a parte da indústria transformadora relacionada com esses ativos, embora uma larga parte do rendimento tenda a regressar aos países de origem, designadamente EUA.

Quer isto significar que qualquer tentativa apressada de invocar estes países como modelo da nossa ambição não nos conduz a um benchmarking verdadeiramente estratégico.

Como é óbvio, os grandes referentes situam-se entre os 130% acima da média (Dinamarca) e os 101% acima da média (França) e obviamente os que acima de nós estão próximos dessa média (tais como a Itália, a Eslovénia, a Chéquia, a Espanha e a Lituânia).

De qualquer modo, a hierarquia de 2023 parece mais favorável a Portugal, com países como Estónia, a Polónia, a Roménia, a Hungria, a Croácia, a Eslováquia, a Letónia, a Grécia e a Bulgária abaixo dos nossos 83%. Não deixa de ser curioso que neste grupo estão inscritos uma grande parte dos países sobre os quais se construiu a ideia do baixo crescimento português.

Não é ainda possível ignorar o facto de uma grande parte destes países abaixo de Portugal se situarem muito próximos do conflito Ucraniano, o que não é seguramente por acaso e sugere as paradoxais “vantagens” da nossa posição periférica.

Estes números devem ser assim entendidos como o estado da arte na altura em que um novo governo toma posse.

Boa sorte para ele, apesar das baixas expectativas

 

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