sexta-feira, 22 de março de 2024

SOBRE O AFASTAMENTO DO AUGUSTO

 


(Quando via por acaso a entrevista de Augusto Santos Silva na SIC Notícias, na qual explicava com uma impressionante qualidade de cultura democrática a sua não eleição no círculo fora da Europa para a Assembleia da República, confirmava que esta aparente derrota pessoal representa talvez o dano colateral mais representativo da vertigem antidemocrática que varreu o eleitorado português em favor do Chega. Tinha vaticinado esse resultado em post anterior, sobretudo porque no contexto de um eleitorado mais à direita que domina o círculo fora da Europa, basta relembrar o apoio de Portugueses a Trump e a proximidade à onda Bolsonaro, a onda antissistema que emergira no eleitorado teria neste círculo de se expressar de uma forma mais massiva e isso penalizaria obviamente o Augusto. O que é impressionante é que esta avaliação tê-lo-á feito o próprio ASS, analista rigoroso que é, e não obstante isso ter tido essa dignidade democrática de não querer faltar ao contacto com os eleitores que lhe proporcionaram a eleição em 2019 e 2022. Das características intelectuais, culturais, cívicas e de experiência política do Augusto já o meu colega de blogue dissertou com pertinência. Pela minha parte, queria apenas destacar a sábia maneira como o ASS sempre enfrentou e tratou a comunicação social nas entrevistas de televisão, rádio ou jornais. Anda por aí uma onda de submissão lamentável de políticos ansiosos aos dislates da bolha mediática. Sem perder nunca a compostura, não conheço outro político no horizonte de hoje que mantenha um registo simultaneamente tão claro e incisivo, não cedendo nunca às piruetas jornalísticas que abundam por aí, seja por impreparação, seja por simples oportunismo. Nessa base, o combate à imprevisibilidade ranhosa do Chega irá precisar de posturas dessa natureza e não de basbaques fofinhos que começam a perfilar-se nos ecrãs, é só estar atento e vê-los de mansinho a preparar a tão propagada normalização. Vamos sentir a falta da presença do Augusto).

A entrevista a que assisti na SIC Notícias considero-a um monumento de dignidade e pedagogia democráticas, com clareza, firmeza, ideias rigorosas, desassombro democrático, características tanto mais relevantes quanto aquela não eleição custa de facto a digerir sabendo quem beneficiou. Saber perder em democracia é em si próprio uma virtude democrática e, nessa linha, o exemplo do ASS fica a pesar em todo este novo ambiente político.

De resto, o que temos em formação é um clima de comentário político que começa a impressionar pelo oportunismo de que dá mostras. Ontem, assisti incrédulo a um Bernardo Ferrão de cabeça às voltas a tentar justificar a tese peregrina de que a afirmação de Pedro Nuno Santos de que apoiaria o eventual orçamento retificativo que Montenegro poderá apresentar se inseria numa tática perversa de encostar às cordas o no governo. Até o Bugalho, que não é flor que se cheire, se espantou e de facto não é coisa para menos.

Tal como já aqui referi em posts anteriores, a chantagem que paira sobre o PS de PNS começa a ser insuportável, preso por ter cão e não ter. Acusado de tudo por não viabilizar orçamentos à AD mais eventualmente IL, e classificado de taticista perverso por apoiar o retificativo.

Irrespirável.

O que vale é que hoje é dia de não trabalho, ténis e netos e isso deverá chegar para desanuviar. As curtas férias da Páscoa também se perfilam no horizonte, o que também ajudará.

 

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