terça-feira, 12 de março de 2024

E DEPOIS DAQUILO

O melhor resumo das eleições legislativas de Domingo veio de Ricardo Araújo Pereira no seu programa de entretenimento na SIC. Deste modo: “Chegamos aqui porquê? Porque o Presidente Marcelo quis organizar mais uma vez a Festa da Democracia. Só que desta vez a Festa da Democracia descambou porque apareceu muito mais gente do que se estava à espera, ficou tudo desarrumado e no fim ninguém está em condições de conduzir o País. Não se percebe bem: o Marcelo tinha dissolvido o Parlamento, pela segunda vez em dois anos, para que das eleições saísse uma situação estável e clarificadora ― saiu isto. Portanto, o resumo é este: quem ganhou foi o terceiro classificado e o primeiro teve uma vitória tão retumbante que ficou praticamente empatado com o segundo, que foi o grande derrotado da noite.”

 

Mas importará também bastante observar as reações europeias e internacionais, sejam elas mais determinadas pelas simples essências resultadistas (a explosão da extrema-direita) ou pela força do politicamente correto (Gentiloni e a sua declaração de expectativa quanto a uma manutenção de “bons resultados” na economia, que o mesmo é dizer quanto receia de que tal assim não aconteça). Depois há ainda os espanhóis, com o “El País” a diferenciar-se dos restantes órgãos de comunicação ao referenciar que “Portugal antecipa o dilema do centro-direita europeu de pactar com os ultras” (a questão que verdadeiramente releva) e os restantes a olharem para o seu umbigo conservador e nacionalista para sublinharem que “o socialismo português deixa governar o centro-direita depois de perder as eleições” (a moral da história que assim atiram à cara do PSOE e de Pedro Sánchez).

 

Um outro dado curioso foi a forma como se pronunciou, no Twitter, um académico reputado (Andrés Rodríguez-Pose) a nosso propósito, salientando a vitória do populismo e remetendo para os ensinamentos provenientes dos seus trabalhos em torno dos lugares que não contam (places that don’t matter) e da geografia do descontentamento na Europa. Não sem também aproveitar para avaliar o estranho resultado do referendo irlandês (não consagração constitucional das famílias não assentes no matrimónio e de que a vida das mulheres não tem de passar necessariamente por casa) à luz da mesma lógica interpretativa ― ou seja, de que “a vingança dos lugares que não contam vai em pleno vapor”.

 

Por fim e sobre o que começa a acontecer cá pelo retângulo, não sou de opinião de que valha muito a pena queimar com isso as pestanas. O espelho de Marcelo diz-lhe que esteja contente consigo próprio, Montenegro haverá de tomar posse para que conste na sua história pessoal e de Espinho, Ventura não desistirá de fazer estragos na procura de uma participação governamental, o PS ficará à espreita do que lhe possa cair no colo e o País não abandonará, como em destino lhe cumpre, a sua apagada e vil tristeza.




Sem comentários:

Enviar um comentário