terça-feira, 29 de março de 2016

CONCRETE ECONOMICS





Por razões de logística profissional, a Brasileira de Braga e o seu inconfundível café de saco têm sido espaço de fruição do tempo para acerto de horários entre reuniões aprazadas. Hoje, a companhia estendeu-se a umas boas páginas da recente obra de Stephen Cohen e Bradford DeLong, Concrete Economics, que nos reconcilia com a ideia de que os economistas podem produzir coisas sábias, acessíveis a um público que não domina o arsenal de instrumentos com que buscamos uma cientificidade que não temos. Cohen e DeLong apostam em produzir um texto curto, escorreito, mais baseado na história do que na matemática, modelos ou até estatísticas. Um texto que pretende intervir nos rumos coletivos da economia americana, necessitada de um assomo coletivo que projete um novo rumo capaz de iniciar um novo ciclo virtuoso de relação entre uma governação pragmática, rigorosa e inteligente (o que parece não estar ao alcance de Donald Trump) e empresários decentes, diligentes e destemidos. É assim um texto vital para compreender as relações entre o governo e o setor privado e, por isso, embora apontado ao debate americano, oferece perspetivas muito enriquecedoras para nós próprios, também necessitados de um novo rumo coletivo que nos retire do atolamento em que nos mergulharam. É curioso que Cohen e DeLong sustentam que não são as ideologias e as ideias teóricas e abstratas que comandam as mudanças de rumo inspirador, mas antes o pragmatismo político da governação, que encontram nas origens de Alexander Hamilton (pai da economia americana a quem o livro é dedicado), de Teddy e Franklin Roosevelt, em Eisenhower.  

Cohen e DeLong defendem, e daí o título, que os períodos florescentes de crescimento da economia americana foram o resultado de uma combinação que é necessário reatar: decisões pragmáticas de governos que traçaram um rumo e abriram caminhos inspiradores e uma classe empresarial que prolongou e explorou as oportunidades abertas, gerando a partir delas novas oportunidades e capacidade de delas tirar partido de modo lucrativo. A partir dos anos 80, a economia americana busca essa clarividência e esse novo rumo, sobretudo porque à falta da clarividência interna se juntou uma capacidade de exportação asiática que ocupou como peixe na água a desindustrialização precoce que os americanos se impuseram em busca de um “Holy Grail” de maior valor acrescentado.

O livro interessa-me sobretudo porque ele deixa em aberto uma questão incontornável: mas afinal qual é o papel das ideias revolucionárias em economia? Simplesmente, ajudar que a clarividência regresse?

Uma boa questão com que este blogue se confronta.

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