Por razões de logística profissional, a Brasileira de
Braga e o seu inconfundível café de saco têm sido espaço de fruição do tempo para
acerto de horários entre reuniões aprazadas. Hoje, a companhia estendeu-se a
umas boas páginas da recente obra de Stephen Cohen e Bradford DeLong, Concrete Economics, que nos reconcilia com
a ideia de que os economistas podem produzir coisas sábias, acessíveis a um público
que não domina o arsenal de instrumentos com que buscamos uma cientificidade que
não temos. Cohen e DeLong apostam em produzir um texto curto, escorreito, mais baseado
na história do que na matemática, modelos ou até estatísticas. Um texto que
pretende intervir nos rumos coletivos da economia americana, necessitada de um
assomo coletivo que projete um novo rumo capaz de iniciar um novo ciclo
virtuoso de relação entre uma governação pragmática, rigorosa e inteligente (o
que parece não estar ao alcance de Donald Trump) e empresários decentes, diligentes
e destemidos. É assim um texto vital para compreender as relações entre o
governo e o setor privado e, por isso, embora apontado ao debate americano, oferece
perspetivas muito enriquecedoras para nós próprios, também necessitados de um
novo rumo coletivo que nos retire do atolamento em que nos mergulharam. É
curioso que Cohen e DeLong sustentam que não são as ideologias e as ideias teóricas
e abstratas que comandam as mudanças de rumo inspirador, mas antes o pragmatismo
político da governação, que encontram nas origens de Alexander Hamilton (pai da
economia americana a quem o livro é dedicado), de Teddy e Franklin Roosevelt,
em Eisenhower.
Cohen e DeLong defendem, e daí o título, que os períodos
florescentes de crescimento da economia americana foram o resultado de uma
combinação que é necessário reatar: decisões pragmáticas de governos que
traçaram um rumo e abriram caminhos inspiradores e uma classe empresarial que prolongou
e explorou as oportunidades abertas, gerando a partir delas novas oportunidades
e capacidade de delas tirar partido de modo lucrativo. A partir dos anos 80, a economia
americana busca essa clarividência e esse novo rumo, sobretudo porque à falta da
clarividência interna se juntou uma capacidade de exportação asiática que
ocupou como peixe na água a desindustrialização precoce que os americanos se
impuseram em busca de um “Holy Grail”
de maior valor acrescentado.
O livro interessa-me sobretudo porque ele deixa em aberto
uma questão incontornável: mas afinal qual é o papel das ideias revolucionárias
em economia? Simplesmente, ajudar que a clarividência regresse?
Uma boa questão com que este blogue se confronta.
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