(José María Nieto, http://www.abc.es)
Já estamos em contagem decrescente para o referendo britânico que conduzirá a inevitáveis mudanças na União Europeia, mais radicais e imprevisíveis em caso de um “brexit” mas igualmente significativas e complexas em caso de uma decisão de permanência. As opiniões dividem-se quase ao meio, quer entre os cidadãos britânicos que vão votar e decidir quer entre os cidadãos europeus que irão ter de conviver com as implicações do veredito daqueles – simplisticamente: há os que entendem que o Reino Unido é uma parte inalienável da Europa e que o “não” conduzirá a uma amputação irremediável do projeto comunitário; e há os que admitem que seria positivo que o Reino Unido votasse “sim” porque, embora podendo fazer falta à ideia de União, a sua consequente saída seria clarificadora para o prosseguimento de uma construção europeia que não é mais compatível com as exceções e contrapartidas à la carte impostas pelas pressões chantagistas recorrentemente provenientes do lado britânico. Num dos seus famosos artigos, Münchau foi cristalino nesta matéria quando sublinhou com grande realismo: “A mais importante concessão específica [dos líderes europeus a Cameron] é o seu acordo, pela primeira vez, a uma Europa a dois níveis. Tal não corresponde a uma opção de exclusão voluntária, uma isenção ou um desvio. Tal não corresponde a uma Europa de velocidades ou geometria variáveis – expressões que foram usadas no passado para designar diferentes graus de integração. Tal corresponde a uma isenção formal da meta de uma união cada vez mais estreita [ever-close union]. Não tenho a certeza se tal tem algum significado legal, mas releva enquanto declaração política.” Porque, como decorre caricaturalmente da vinheta acima, é visível a imensa disponibilidade formal dos burocratas de Bruxelas para acolher o imobilismo essencial que carateriza a maioria dos políticos europeus tradicionais – só que o problema é de tipo galilaico (e pur si muove!) e, como Münchau entretanto também escreveu a propósito do que veio designar por uma Europa a entrar na “idade da desintegração”, danger lies ahead...
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