Acreditem ou não, a verdade é que os dois responsáveis por este blogue nunca articularam entre si qualquer agenda temática ou outra. E não nos temos dado mal com isso. No entanto, lá vão surgindo por vezes (raras, tenho de o sublinhar) confluências que parecem indiciar alguma combinação entre os dois – mera coincidência ou, quando muito, uma simples e circunstancial transmissão de pensamento. Estamos hoje perante um desses casos, com o António Figueiredo a remeter os nossos leitores para a preocupante situação na Eslováquia, ao mesmo tempo que eu próprio preparava um post sobre o mesmo assunto, que decidi manter por o considerar largamente complementar.
Primeira nota: nas recentes eleições legislativas na Eslováquia, o favorito era o primeiro-ministro cessante que já contava com quase oito anos de exercício de funções, Robert Fico. E, na realidade, o seu SMER saiu vencedor – todavia, com o pequeno mas nada irrelevante detalhe de ter perdido a maioria absoluta de que dispunha (de 44,4% para 28,3% dos votos e de 83 em 150 lugares no Parlamento para apenas 49). Mas a questão mais preocupante é o ideário proclamado por Fico, cujo partido é filiado no Partido Socialista Europeu: o cartaz propagandístico, que abaixo reproduzo, tem o castelo de Bratislava em fundo e diz “nós protegemos a Eslováquia” – a proteção em vista é, pasme-se!, contra os muçulmanos (o homem já afirmou que as fronteiras não foram feitas para desfiles e até já chegou a prometer com ar sério que iria mandar vigiar cada muçulmano)! Em suma: estamos perante um novo Orban, com a diferença significativa de este agora se apresentar como sendo socialista – um “Orban de esquerda”, quem diria meus senhores!
(Martin Sutovec, “Shooty”, http://www.sme.sk)
(Martin Sutovec, “Shooty”, http://www.sme.sk)
Segunda nota: numa apreciação de conjunto, os resultados eleitorais mostram outras tendências importantes a somar à perda de 40% dos seus lugares anteriores pelo SMER de Fico. Refiro-me a um Parlamento muito mais fragmentado (não só porque passam de seis a oito os partidos nele representados, mas principalmente pela impossibilidade de maiorias estáveis e consistentes que claramente evidencia), a uma impensável quebra dos partidos filiados no PPE (de 40 lugares e três formações presentes a 11 lugares e as duas formações essenciais excluídas de representação) e a uma dominância de organizações de tipo eurocético, xenófobo, populista, centradas na personalidade dos seus líderes e até de extrema-direita e neonazi (de apenas 27 deputados nessas condições em 2012, todos aliás ligados aos eurocéticos do ECR, a nada menos do que 80 deputados em 2016, sendo 29 deles de extrema-direita, incluindo 14 neonazis comandados pelo controverso provocador Martin Kotleba, e 11 populistas).
Termino com um gráfico que elucida o peso eleitoral dos partidos mais votados: por ordem decrescente, os ditos “socialistas” do SMER à cabeça (28,3%), os dois eurocéticos em segundo e terceiro (mais de 23% dos votos), os extremistas de direita e neonazis mais os populistas em quarto, quinto e sexto (mais de 23% dos votos), um partido multicultural eslovaco-húngaro em sétimo, um partido novo de centro-direita em oitavo e os democratas-cristãos em nono (mas já fora de representação). Preciso dizer mais?
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