quinta-feira, 3 de março de 2016

A FRUSTRAÇÃO DEMOCRÁTICA É TÓXICA E PERIGOSA





O que dizer do avanço de Donald Trump, da sua ascensão para mim esperada, da sua jactância, do primário aproveitamento dos medos mais profundos?

Em primeiro lugar, que a América é suficientemente complexa e contraditória para ditar um presidente como Obama e despertar todos os fantasmas que se agitam em torno da candidatura de Trump.

Depois que o avanço de Trump é a outra moeda de um conjunto de candidatos republicanos que envergonham a memória liberal e americana de um partido representativo de outros valores que parecem erradicados. Olhamos para o desfilar de candidatos como Ted Cruz e Rubio e parece estarmos a ver uma galeria de personagens de filmes americanos, desde os vendedores de bíblias e evangelistas às personagens mais reacionárias, e a sensação imediata é que a família Bush ao pé destes personagens são uns grandes senhores, voltem e estarão perdoados. Trump parece reunir numa só personagem todas as frustrações de gente que se inclina para o caos como solução de último recurso para a sua incapacidade e profundo desprezo pelos corredores de Washington, os corredores do poder. É obra reunir o apoio do Ku Klux Klan, sem pestanejar. Talvez seja injusto e apressado situar Trump apenas como uma consequência da própria evolução do partido republicano, mas desde há alguns anos o partido parece ter deixado de ser uma realidade homogénea e coerente, para acolher por exemplo tendências como o Tea Party.

O artigo de Lawrence Summers no seu blogue é revelador do catastrofismo explicável que uma certa inteligência americana e liberal está a associar a uma possível vitória de Trump nas eleições americanas. Quero crer que os velhos valores republicanos ainda resilientes na América mais profunda terão à última da hora um arremedo de consciência prospetiva e, se não puderem influenciar a nomeação, se recusem a conceder o veredicto final favorável a tão obtusa personagem. É provável que algum poder económico americano entenda também em última instância que uma plutocracia com personagem tão instável pode ser perigosa para os próprios interesses do business.

Não será a Hillary mais forte que emergirá para barrar a chegada à Casa Branca do personagem. Imagina-se que a sua vida no Congresso e no Senado se ganhar também não vai ser fácil, sabemos lá que concessões a candidata democrata será obrigada a fazer nos bastidores para barrar o caos de Trump.

Conflito de interesses: nas horas vagas e de descanso televisivo, tenho visto episódios de mais do House of Cards. É por isso possível que esteja a ver coisas, cabalísticas e de outro género.

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