O que dizer do avanço de Donald Trump, da sua ascensão para
mim esperada, da sua jactância, do primário aproveitamento dos medos mais
profundos?
Em primeiro lugar, que a América é suficientemente complexa
e contraditória para ditar um presidente como Obama e despertar todos os fantasmas
que se agitam em torno da candidatura de Trump.
Depois que o avanço de Trump é a outra moeda de um conjunto
de candidatos republicanos que envergonham a memória liberal e americana de um
partido representativo de outros valores que parecem erradicados. Olhamos para
o desfilar de candidatos como Ted Cruz e Rubio e parece estarmos a ver uma galeria
de personagens de filmes americanos, desde os vendedores de bíblias e
evangelistas às personagens mais reacionárias, e a sensação imediata é que a
família Bush ao pé destes personagens são uns grandes senhores, voltem e estarão
perdoados. Trump parece reunir numa só personagem todas as frustrações de gente
que se inclina para o caos como solução de último recurso para a sua incapacidade
e profundo desprezo pelos corredores de Washington, os corredores do poder. É obra
reunir o apoio do Ku Klux Klan, sem pestanejar. Talvez seja injusto e apressado
situar Trump apenas como uma consequência da própria evolução do partido
republicano, mas desde há alguns anos o partido parece ter deixado de ser uma
realidade homogénea e coerente, para acolher por exemplo tendências como o Tea
Party.
O artigo de Lawrence Summers no seu blogue é revelador do
catastrofismo explicável que uma certa inteligência americana e liberal está a
associar a uma possível vitória de Trump nas eleições americanas. Quero crer
que os velhos valores republicanos ainda resilientes na América mais profunda
terão à última da hora um arremedo de consciência prospetiva e, se não puderem
influenciar a nomeação, se recusem a conceder o veredicto final favorável a tão
obtusa personagem. É provável que algum poder económico americano entenda também
em última instância que uma plutocracia com personagem tão instável pode ser
perigosa para os próprios interesses do business.
Não será a Hillary mais forte que emergirá para barrar a
chegada à Casa Branca do personagem. Imagina-se que a sua vida no Congresso e
no Senado se ganhar também não vai ser fácil, sabemos lá que concessões a candidata
democrata será obrigada a fazer nos bastidores para barrar o caos de Trump.
Conflito
de interesses: nas horas vagas e de descanso televisivo, tenho
visto episódios de mais do House of Cards.
É por isso possível que esteja a ver coisas, cabalísticas e de outro género.
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