sexta-feira, 4 de março de 2016

OS PEDALINHOS DE UM DIA TRISTE






É célebre a expressão de Lula, “todo o mundo pode menos esse merda de metalúrgico”, na qual ele reivindica o direito de frequentar casa de praia e possuir a sua chacra. Já se pressentia que, sem ou com motivos, a operação Lava jato andava a rondar Lula e a sua família, em torno de uma possível circulação desviada de dinheiro com origem na Petrobrás, que passava pelas grandes construtoras brasileiras alvo da referida operação e que teria acabado por parar presumidamente aos bolsos da família, não diretamente mas através de outras organizações entre as quais a instituição responsável pela gestão das conferências e palestras do ex-Presidente.

À distância e sem qualquer conhecimento específico sobre a realidade política brasileira, não me atrevo a discernir sobre a bondade do aparato da detenção temporária de Lula para interrogatório pelo Ministério Público em S. Paulo, com direito a viagem em viatura policial para o aeroporto onde foi concretizado o referido interrogatório. Já há muito tempo que o PT se movimenta em areias movediças e sobretudo muito viscosas. A reação do ex-Presidente foi dura e contundente, mas a sua declaração de que a detenção temporária reacendeu a chama de que a luta continua era a única possível da parte de alguém que goza ainda na população brasileira (e compreende-se porquê dada a natureza redistributiva da sua governação) de um elevadíssimo capital de estima e admiração.

Talvez até a iniciativa judicial vise preparar o caminho a uma estocada final na Presidenta Dilma, mas tudo isto começa a cheirar a fim de carnaval, em que aos corpos cansados de quatro dias de folia sucede uma espécie de desencanto político, de desmoronamento de referências.

No interrogatório estiveram em causa uns pedalinhos (ver imagem acima) presumidamente oferecidos aos netos do ex-presidente pelas mencionadas construtoras, batizados com os nomes das duas crianças, que introduz em todo este processo um simbolismo de beleza celestial em algo que pode ser bem mais negro (os pedalinhos reproduzem cisnes brancos).

Independentemente de Lula ser ou não um osso duro de roer ou do caso poder revelar um deslumbramento para com o poder mais obscuro do que o bucolismo dos sítios sob suspeita, hoje é um dia triste, profundamente triste, porque os referenciais também se abatem e uma esmagadora maioria da pobreza brasileira fica sem rumo e esperança.

E as manifestações do próximo dia 13 contra Dilma, Lula e o PT marcarão provavelmente o fim de um ciclo.

Um dia profundamente triste.

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