quarta-feira, 9 de março de 2016

SIMPLESMENTE MARCELO





Num dia agitado e extremamente ocupado não deu para seguir com atenção a tomada de posse de Marcelo Rebelo de Sousa como presidente da República. Bem pode João Carlos Espada fazer todas as piruetas necessárias para nos convencer que Aníbal Cavaco Silva foi um sinal de modernidade da vida política portuguesa, mas num dia de passagem de testemunhos, mais do que nunca é conveniente olhar para o futuro. Até porque se olharmos para quem passou o testemunho encontramos ressentimentos, progressiva incapacidade de protagonizar algo de motivador, de mobilizador, mesmo que encontremos nos seus discursos dispersos matéria (palavras) que poderiam ter assumido, em alguns contextos, alguma mobilização se a personalidade não fosse o seu contrário.

Falemos por isso de Marcelo. Não me custa admitir que tendo votado António Sampaio da Nóvoa para a Presidência e vendo nele um modelo de Presidente que me agradaria, não estou particularmente desmotivado com a eleição e a tomada de posse de Marcelo. E se estivesse sentado politicamente à esquerda do PS não teria assumido o gesto gratuito de não aplaudir a sua tomada de posse e discurso na Assembleia da República.

Marcelo está quer queiramos quer não mais próximo da maneira de estar de um Portugal mais jovem e de futuro do que o foi Cavaco Silva e isso para mim é suficiente para lhe conceder um amplo benefício da dúvida, sobretudo se conseguir marcar a sua passagem pela presidência com traços de uma visão social-democrata do país e dos seus desafios contemporâneos.

Não sei, entretanto, se bastará a Marcelo fazer o contraponto com a rigidez de Cavaco e se os “seus afetos” serão suficientes para mobilizar os portugueses a vencer as duras batalhas que o contexto atual nos força a travar. O discurso de tomada de posse talvez seja imbuído de uma abrangência, cuja amálgama de símbolos é difícil imaginar como algo de coerente. Mousinho da Silveira, Torga (sobretudo Torga), Ourique, António Lobo Antunes, nem a favor nem contra ninguém, mas com empenho social a favor de jovens qualificados à procura de emprego, do reconhecimento da mulher, de pensionistas e reformados, de cientistas, de empresários, do mundo do trabalho, do talento, da inclusão.

Mas, ainda assim, esperemos que seja este Marcelo que vamos ter.

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