quinta-feira, 17 de março de 2016

SIM, UM OUTRO CONTEXTO, MAS DEPRIMENTE …






Sim, eu sei que o contexto do poder judicial no Brasil não tem absolutamente nada que ver com o nosso sistema. Por cá, há quem intervenha nas entrelinhas, embora no Alfa Pendular, sobretudo às quintas-feiras, é possível perceber que vontade de outro tipo de intervenção não é coisa ausente. Por lá, pelo contrário, a intervenção judicial é em campo aberto, um juiz proeminente não se coíbe de apoiar na sua página de facebook, pois claro, manifestações públicas tendentes a afastar o atual governo e de publicar escutas telefónicas muito comprometedoras para Dilma e Lula. Se calhar, tudo isso é mais transparente. Mas como simples observador à distância, o que me salta ao teclado é que o combate político nas ruas não se trava entre um poder que se pretende ver corrido para a vala comum do esquecimento e uma alternativa política de governação. Não, o que move aquelas manifestações de uma classe média em lenta formação, com entradas na população mais desfavorecida, é a perceção de que só o poder judicial (pelo menos algum) poderá ter a veleidade de impor algum rigor na coisa pública e varrer pelo menos as dimensões mais gritantes da corrupção. E é esta estranha conclusão que me perturba. Mas não haverá no Brasil uma oposição relativamente moderada que possa capitalizar sem ser chamuscada pelo fogo da corrupção uma movimentação social deste porte? Se essa incapacidade for real, então teremos um indicador avassalador e endémico dos níveis avançados de captura do Estado praticamente por toda a classe política. O judicialismo poderá avançar e uma qualquer força política não vai resistir à tentação de se colar a um desses protagonistas.

Quanto à circunstancial caída nos braços um do outro de Dilma e Lula, ela é bem sintomática do abismo que aguarda os dois personagens. Dilma vê na entrada (se for vencida a batalha judicial em torno do seu impedimento legal) de Lula para o governo o último dos trunfos para tentar interromper a sua vertiginosa queda para o impedimento. Lula, por sua vez, aceita a sua entrada para o governo como o melhor instrumento para fazer valer a sua desesperada solução de por via política combater o seu encurralamento judicial (onde é que eu já visto?). Num contexto menos avançado de degradação da situação política, as visões de Dilma e Lula poderiam ser virtuosas e interagir favoravelmente, sobretudo se houvesse tempo para algumas medidas à velho Lula. Mas a degenerescência da situação está já demasiado avançada e por isso as duas visões não são mutuamente benéficas. Antes em meu entender vão potenciar-se negativamente na direção do abismo. E no tempo aceleradíssimo que o Brasil hoje vive, o Carnaval já vai lá longe, os Olímpicos ainda podem esperar e afinal o povo não é parvo, ou não gosta que o façam de parvo, como alguns humoristas brasileiros mais corrosivos gostavam de o fazer lembrar.

Um longo ciclo de derrota do distributivismo brasileiro está em formação, não sabendo que contornos concretos assumirá a sua superação.

Posfácio: o Juiz Catta Preto Neto retirou elementos da sua página de Facebook e terá dito que não eram afirmações para serem tomadas a sério, eram apenas brincadeira. O circo parece estar montado e ainda não sei quem são os palhaços.

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