José Eduardo dos Santos é, para mim, um impenetrável mistério. Porque até podemos discutir a inevitabilidade do endurecimento do regime a que presidia num complexo e prolongado contexto de guerra civil, a natureza assim tornada ditatorial desse regime ou o modo como enriqueceu e favoreceu o enriquecimento de uma elite angolana que lhe era próxima, entre tantas mais coisas negativas. Mas o que não é compreensível é que um homem que tudo indica ser sagaz e inteligente não tenha sabido adaptar-se aos tempos de paz e património estabilizado, agindo por forma a fazer transformar vícios tornados descartáveis em virtudes de um poder em afirmação de credibilidade. Os editoriais do “Jornal de Angola”, como é o caso deste último “Vingança de colono” (que vale a pena ler na íntegra e diz respeito ao dossiê das ligações alegadamente corruptas entre um procurador da República Portuguesa e o nº 2 da República Popular de Angola), são meras e caricaturais ilustrações daquilo que acaba por ser uma aparentemente desnecessária exploração do que de mais hiperbolicamente reles se pode exibir a uma sociedade dita em reconstrução. Simplesmente deplorável!
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