quarta-feira, 23 de março de 2016

ESTÁ A GLOBALIZAÇÃO A MUDAR?





As três dimensões mais marcantes do processo de globalização são os fluxos comerciais de bens e serviços (globalização económica), os fluxos de capitais (globalização financeira) e os movimentos de pessoas (globalização das pessoas). Se atendermos aos resultados de investigação recente promovida e publicada pelo McKinsey Institute, estas três dimensões, após terem crescido incessantemente nos últimos 20 anos, caem em percentagem do PIB após 2007-2008. O relatório merece ampla e atenta leitura, pois traz-nos algumas evidências que contrariam o que começáramos a assumir como algo de irreversível. Assim, os dados revelam que parece confirmar-se a tendência para o “reshoring” que já havíamos aqui documentado a propósito da economia americana. O crescimento do consumo de bens manufaturados está a processar-se a ritmos mais elevados do que o comércio internacional, o que indica que se consome mais onde os produtos são ultimados. 


Além disso, o relatório descreve o encurtamento das cadeias de valor globais, com cerca de metade das categorias de bens intermédios a ver os seus fluxos comerciais diminuídos. É verdade que tal como Tim Taylor o assinala com pertinência, a globalização das pessoas parece ter sido a dimensão que mais resistiu, embora a movimentação de pessoas se concretize mais em deslocamento de curto prazo como os fluxos do turismo e dos estudantes (ver gráfico abaixo).


Mas o dado mais marcante do relatório da McKinsey é a consolidação do que devemos considerar uma nova dimensão da globalização, o mundo do digital e o que ele representa do ponto de vista da construção de mercados cada vez mais globais.

O diagrama-imagem que abre este post confirma que a massa de utilizadores de algumas plataformas on line ultrapassa a população dos países gigantes demográficos. A tangibilidade da velha globalização parece em vias de ser substituída pela intangibilidade da nova globalização, num mundo em que os start-up’s são globais desde o seu aparecimento no mercado. Mas o que é relevante é que a relevância da globalização digital e das modalidades de comércio (o comércio eletrónico, por exemplo) não parece ter sido suficiente para contrariar a queda do comércio mais tradicional de bens e serviços em percentagem do PIB. É questão que merece uma revisita e a leitura do relatório da McKinsey vai para a fila de espera pessoal.

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