A problemática dos “desahucios” (despejos) é talvez a manifestação
mais perene e violenta da crise espanhola, aquela que mostra sem maquilhagens
de encobrimento a dimensão social de um problema, que começou no comportamento
de tripa forra do sistema bancário espanhol e da grossa corrupção que a alimentou
e que dela viveu.
Os jornais espanhóis e também a televisão deram-nos verdadeiros
documentos sociológicos, pungentes, desse fenómeno, que ficarão como memória do
que as análises económicas nunca serão capazes de transmitir na frieza dos seus
indicadores.
Uma pesquisa acidental em torno desse fenómeno que me
interessa como dano social central do desgoverno do mercado levou-me à informação
sobre um filme, musical é curioso, sobre o tema, CERCA DE TU CASA.
E a informação sobre o filme conduziu-me à sua banda sonora
e a uma descoberta gratificante, a música e a obra de Sílvia Pérez Cruz. Mas
que descoberta! Uma passagem rápida pela FNAC do Vasco da Gama em Lisboa, na antecâmara
de um comboio para o Porto, trouxe-me o seu último disco DOMUS, organizado precisamente
com canções da banda sonora do CERCA DE TU CASA.
“No hay tanto pan”
ficará provavelmente como um símbolo dos “desahuciados”
e a voz cristalina de Sílvia penetra as nossas consciências de modo mortífero.
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