terça-feira, 29 de maio de 2018

A LUTA PELAS COMPONENTES



(Amizades, amizades, negócios à parte. As relações transfronteiriças Norte-Galiza têm sido marcadas nos últimos anos por uma luta intensa dos dois lados da hoje inexistente fronteira pela localização de fábricas de produção de componentes para a indústria automóvel. Os galegos parecem finalmente ter conseguido um ponto depois de outros, e muitos, perdidos).

A VOZ de GALICIA dá hoje conta (link aqui) de que a multinacional alemã Benteler Automotive terá decidido instalar o projeto de uma nova unidade de produção de componentes de 250 trabalhadores e 30 milhões de euros de investimento em território galego, no município de Mos ou no denso polígono industrial de As Gândaras em Poriño.

Até aqui tem sido sem disfarces que a região galega tem com azedume acompanhado a preferência revelada pelas unidades de produção de componentes nos municípios de Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira e Valença em função de disponibilidade de solo infraestruturado a preço convidativo (quase zero), mão-de-obra mais barata do que na Galiza e acessibilidades relativamente fáceis à unidade industrial do grupo PSA em Vigo. Cada qual joga o mais limpo possível com as armas que tem e o argumento da concorrência desleal dos municípios portugueses é conversa mal amanhada, pois há que falar de uma estratégia consciente dos municípios nortenhos para compensar as suas debilidades produtivas face a outras regiões nacionais e europeias. E quanto ao argumento dos salários mais baixos ele também não colhe, pois oxalá ele não existisse e o Norte estivesse a pagar ao nível do que se paga na Galiza e noutras regiões espanholas. Poderíamos retorquir aos nossos amigos galegos que se compararem em euros os preços que temos de pagar pelos automóveis produzidos na unidade de Vigo ou na AutoEuropa ou em outros locais de produção rapidamente perceberão que não gostariam de trocar de residência.

Aliás, os amigos galegos são peritos em fazer ressurgir algum nacionalismo económico regional quando algum investidor económico nortenho ou nacional decide adquirir algum empreendimento na Galiza, não se inibindo de realizar fluxos em assentido contrário, numa região como o Norte, em que a presença de investimento estrangeiro é bem mais usual e nunca despertou ideias de nacionalismo económico regionalista. Compreendo que, depois da queda abrupta da estrutura financeira regional das Cajas na sequência da crise financeira dos anos 2007-2008 e correspondentes desmandos internos, o ego regionalista galego tenha sido atacado no seu mais puro âmago. É a vida, meus caros. Por cá, embora sem estrutura financeira regional, ainda bem, também tivemos de suportar do nosso bolso os desmandos dos nossos aprendizes de banqueiros e donos de qualquer coisinha, por aí.

A Voz de Galicia escusava de aparecer com a parangona de Norte 10 – Galiza 1, para mostrar como tem sido desequilibrada a atração de produção de componentes nos dois lados da fronteira da cooperação. Mas isso é a imprensa galega a jogar no plano interno e a agitar as hostes, num período em que a Xunta parece relativamente ausente, com a situação política nacional a preocupar o líder da Xunta e sua equipa.

Mas a unidade da PSA em Vigo parece segura e até em fase de intenso investimento, o que é o principal ativo da Galiza.

E não foi na Galiza que prosperou o conceito de Euro-região? Ou será apenas folclore mediático?

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