terça-feira, 8 de maio de 2018

A POLÍTICA EM ESPANHA



(Como seria de esperar a Espanha pícara teria de produzir uma política não menos pícara. Uma simples atualização das evidências para o comprovar.)

A Espanha dos últimos dias registou uma vasta mobilização dos seus pensionistas, tentando desesperadamente conservar direitos adquiridos, lutando por algo ameaçado, bem ameaçado. Praticamente em simultâneo, o PP lambe as feridas suscitadas por Cifuentes, que se retira da política, amargurada e humilhada na praça pública. Entretanto, o bobo da corte e franjinhas Puigdemont ensaia mais um passe de mágica, procurando mais um logro de investidura telemática que, a concretizar-se, prolongaria o 155º e atiraria a Catalunha para novas e inevitáveis eleições. A Esquerda Republicana parece finalmente querer dizer basta e opor-se a tão desvirtuada figura, produto de uma manta de gatos vadios em que o Junts per Cat se transformou, mas não é certo que tal demova o aventureirismo de Puigdemont. A ilusão é algo que custa ver destruído e todos os passes de mágica parecem justificar-se para prolongar o estado de sítio.

Em simultâneo com o escândalo Cifuentes, uma nova sondagem dá o CIUDADANOS a nível nacional a morder os calcanhares do PP, praticamente em empate técnico, com o PSOE abaixo das duas formações da direita espanhola que parecem disputar a divisão entre a tradição e a modernidade. Diga-se entretanto que a pretensa modernidade do CIUDADANOS não foi ainda posta à prova, havendo a interrogação de saber se basta simplesmente não partilhar a corrupção endémica do PP para ganhar a confiança dos espanhóis fartos de tanta indecisão e roubalheira.

Com os Pressupuestos ainda no limbo da aprovação, claro que o movimento dos pensionistas não ajuda a respirar e a incomodidade do governo PP transpira de tudo que é tomada de posição pública.

Mas a Espanha pícara teria que aparecer. A secretária de Estado da Comunicação Carmen Martínez, que um jornalista do El Español não hesita em classificar de “El perro de Rajoy” (o clima promete, mesmo sem alterações) saiu-se “off-record” com esta prosa sublime: “(¡Qué ganas de hacerles un corte de mangas de cojones y decirles: ‘Pues os jodéis’!").

Está assim o ambiente político em Espanha. Em confronto com esta tensão, o ambiente em Portugal é de meninos, mimados alguns.

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