quarta-feira, 30 de maio de 2018

ESPANHA AO RUBRO



(O curto vídeo que o jornalista Pedro J. Ramírez publicou no El Español é a melhor síntese do estado da arte da política espanhola. “Três moções para enterrar um morto” é uma espécie de filme negro do estado a que a inoperância política de Rajoy chegou e Soraya de Santamaría que se prepare para ir a votos, mais tarde ou mais cedo).

O jornalismo espanhol de melhor qualidade, El Mundo, El País e El Español, perceberam em devido tempo que o caso Gürtel, com o trapaceiro Barcenas a fazer das suas e a agilizar “sobresueldos” para muito boa gente no PP, representava uma bomba de detonação devastadora, mesmo que dilatada no tempo pela complexidade do processo judicial. E assim aconteceu. A sentença judicial que finalmente foi preferida foi uma espécie de acelerador combustível para a luta política em Espanha. Bem pode Rajoy clamar pelo interesse nacional da estabilidade de levar a legislatura até ao fim e desancar Pedro Sánchez por ter perdido de repente o sentido de Estado que o próprio Rajoy lhe atribuiu obtendo a sua solidariedade para o 155º na Catalunha. É que, na verdade, não há interesse de Estado que resista a uma sentença daquela natureza e envergadura. E, temos de convir que se o PSOE não se mexesse após a publicação da sentença estaria a comungar da mesma inação que vai matando aos poucos Rajoy.

Mas a vertigem política espanhola não é fácil de resolver. O PP resiste a toda a mudança,  pois ir para eleições hoje ou nos próximos dias equivalerá a colocar o CIUDADANOS no poder, mesmo que Rajoy se retire. O PSOE de Sánchez quer apresentar a moção de censura e ocupar o governo se ela for aprovada e dilatar a marcação de eleições para lhe dar um respiro eleitoral e tentar ganhar maior peso de votantes. Obviamente que CIUDADANOS e PODEMOS querem eleições já e preparam moções de censura acaso o PSOE veja a sua recusada ou insista em diferir eleições. Os partidos independentistas ou nacionalistas estão um pouco aturdidos pois serão chamados a votar favoravelmente as moções de censura, abrindo caminho a governações do CIUDADANOS ou do PSOE que relativamente ao nacionalismo catalão o rejeitam frontalmente.

É por isso que o curto vídeo de Pedro J. Rodriguez no El Español é uma peça de arte de ironia negra:“Tres mociones para enterrar un muerto” (link aqui).

Entretanto, pelas bandas da Catalunha, o peso-pesado e ex-vice presidente do PSOE Alfonso Guerra atirou-se ao supremacismo declarado de Quim Torra, pincelando-o de conotações nazis e a musa do independentismo catalão, a escritora Pilar Rahola, retorquia com isto “Hay bocachanclas, insolentes, chulos de bar, prepotentes, ignorantes orgullosos y después está Alfonso Guerra”. Como isto vai! Entretanto, o estabelecimento comercial da mãe de Albert Rivera, líder do Ciudadanos e residente na Catalunha apareceu de novo pintado com a inscrição de Ciudadanos Nazis.

A Espanha começa a não se recomendar.

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