sábado, 19 de maio de 2018

POPULISMO, ELITES E DEMOCRACIA



(Nem sempre alinho com a prosa de Miguel Sousa Tavares, mas desta vez está em linha com o que já escrevi e não confundo esta reflexão com qualquer perseguição ao universo leonino. Mas a perturbação nas elites de Alvaladeé confrangedora)

Embora João Miguel Tavares se tenha apressado em meter Bruno e Sócrates no mesmo saco clamando pela cegueira em não se ter percebido quem transportava o facho, a verdade é que a sedução que Sócrates e Bruno exerceram em algumas elites portuguesas, confundindo-as ou aliciando-as assenta em modelos diferentes. No primeiro, esteve essencialmente em causa o modelo económico que atraiu interessados na sua captura, complementado com algum poder de decisão e ambição. No segundo, não consegui ainda perceber as razões da prestidigitação.

Mas que é confrangedora a perturbação que grassa nas elites leoninas isso não escapa a ninguém, desde os mais até aos menos convencidos de que foram redondamente enganados, incluindo aqui o cirurgião Barroso, que a braços com  jet lag de uma viagem ao Paquistão se enterrou ao comprido na sua passagem pelas televisões.

Cedo me apercebi que o caso Bruno continua matéria explosiva e de grande alcance para as relações entre populismo e democracia. Por isso vejo com agrado a pena agressiva de Miguel Sousa Tavares agarrar a questão pelos cornos:

“(…) Porque os Brunos de Carvalho do futebol antecipam o que poderá ser um dia o aparecimento dos Brunos de Carvalho da política. E a avaliar +elo que vimos no Sporting, o povo está maduro para lhes abrir os braços. O povo e as pretensas elites, que se julgava educadas para defender a democracia contra a demagogia. Talvez tenham complexos de enfrentar os demagogos quando eles se reclamam do povo e se dizem seus defensores. Mas é assim mesmo que morrem as democracias: às mãos dos demagogos e pela deserção das elites. Desejo sinceramente que o Sporting não morra. Mas, se morrer, ou se for ao fundo durante uns anos, ao menos que sirva de exemplo”. (Jornal Expresso).

A matar, como convém.

As minhas elites não são seguramente melhor do que as tuas, pelo que a questão também se coloca para os lados da Luz. A não ser que estejamos a falar de elites em rebaixas.

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