segunda-feira, 7 de maio de 2018

SKILLS COM TRÊS MINISTROS E ALGUNS SECRETÁRIOS DE ESTADO



(Não é habitual uma iniciativa de apresentação pública de um estudo, neste caso OCDE, sobre Portugal ter uma manhã de tanta concentração de agentes políticos. A interpretação esperançosa é que o compromisso dessa presença represente um compromisso futuro de forte coordenação e empenho políticos no fortalecimento do sistema de educação e formação de adultos em Portugal, depois do apagão que o anterior governo lhe transmitiu.)

O ministro da Educação Brandão Rodrigues, anfitrião da iniciativa, o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social Vieira da Silva, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Manuel Heitor, que moderou o painel em que participei, a coordenação política de Mariana Vieira da Silva, Secretária de Estado Adjunta do Primeiro-Ministro, secretários de Estado Alexandra Leitão, adjunta e da Educação, João Costa da Educação, Miguel Cabrita do Emprego, Ana Teresa Lehman da Indústria (elegantíssima, sempre às voltas com o telemóvel, é preciso gerir agenda tão apertada e diversificada de aparecimentos e visitas, claro que não me passou cartão) é de facto um rol impressionante de presença política.

É verdade que o estudo OCDE gozou da particularidade do envolvimento de oito ministérios e há inclusivamente propostas por parte da OCDE de transformar o grupo que acompanhou o estudo em algo de mais institucionalizado, elevando a fasquia do compromisso político.

O regresso da educação e formação de adultos no quadro de uma abordagem à estratégia de competências para Portugal constitui uma excelente novidade, pelo que pode representar de reconhecimento e sua superação do enorme erro político assumido pelo governo anterior de “apagar” a educação e formação de adultos da política pública. As recomendações realizadas pela OCDE são ambiciosas e de complexa tramitação política, sendo fundamental avaliar se o empenhamento interministerial revelado no processo da missão OCDE significará coordenação e cooperação acrescidas no plano da ação. Quando se começar a falar de recursos e de orçamento outros galos cantarão.

Cá por mim, e face aos 10 minutos que a voz off irritante que domina presentemente estes acontecimentos nos concedeu face ao adiantado da hora, centrei a minha mensagem nos seguintes pontos:

  • Saudar que a educação e formação de adultos tenha sido escolhida para protagonizar a aplicação faseada da estratégia Skills para Portugal, sobretudo atendendo à mensagem política que transmite;

  • Saudar também a abordagem das competências e não comungar do alarme que vai por algumas mentes bem pensantes, incomodadas com o avanço da abordagem das competências, essa horrível cedência ao produtivismo; num sistema ainda dominado pela oferta e em que a procura continua com dificuldades em explicitar necessidades, falar de competências é saudável e mexe com a inércia do sistema; mas ficou o alerta para a vulgata da banalização das competências. Oportunidade para relembrar a finura do amigo Guy Le Boterf em que a competência é um ato de saber-agir validado e reconhecido num contexto profissional, exigindo saberes de mobilização, integração e transferência de uma vasta gama de recursos, conhecimentos é óbvio incluídos;

  • Sublinhar a importância do fortalecimento da educação e formação de adultos para equilibrar a tensão permanente entre o apelo dos fluxos (melhorias anuais de taxas de escolarização, de participação, de combate ao insucesso escolar) e a pressão da inércia dos stocks (os baixos níveis de qualificação de ativos e inativos);

  • Alertar para o impacto generalizado que o sistema de educação e formação irá experimentar com a captação e mobilização necessárias dos públicos menos escolarizados: orientação, monitorização, metodologias de ensino e formação, avaliação, formação de professores e tutores, incentivos a indivíduos e empregadores, tudo isto num período em que a motivação interna ao sistema não está nos seus melhores dias;

  • Destacar o período de mudança tecnológica e estrutural em que a economia portuguesa se encontra, logo com exigências fortíssimas em termos de identificação de necessidades de procura, num equilíbrio constante entre a flexibilidade incremental e o voluntarismo disruptivo, mas arriscado, que é necessário assegurar;

  • Finalmente, os problemas da governação, da governança e da coordenação, com acento tónico no ponto da territorialização para o desenvolvimento local, com fortes exigências de capacitação e de clarificação dos tecidos institucionais sub-regionais.

Esta foi a mensagem, com um Ministro a moderar.

Tarefa cumprida, para memória futura.

Sem comentários:

Enviar um comentário