O meu atual compromisso de trabalho impede-me de prosseguir com a frequência que me era habitual as minhas incursões pelas livrarias. Mas na Sexta-Feira, dia de um aniversário familiar, lá consegui sair de uma reunião na Barbosa du Bocage a tempo de dar uma fugida à FNAC do Chiado em busca do(s) presente(s) adequado(s) à festividade em causa. E zás, ao mesmo tempo que resolvi o assunto que me movia, lá me deixei perder com mais umas compritas pessoais que me saltaram à vista numa rápida passagem pelos escaparates.
Uma dessas compras foi um pequeno livro, anunciado como tendo ganho o “Goncourt” do ano transato, e referenciado na contracapa nos seguintes termos: “A 20 de fevereiro de 1933, um dia comum em Berlim, teve lugar no Reichstag uma reunião secreta na qual os industriais alemães — entre os quais se contavam os donos da Opel, Krupp, Siemens, IG Farben, Bayer, Allianz, Telefunken, Agfa, BASF e Varta — doaram enormes quantias a Hitler para conseguir a estabilidade que ele prometia. A partir desse ano, Hitler preparou uma estratégia para a comunidade internacional para anexar ‘pacificamente’ a Áustria; para isso, enquanto procurava o consentimento ou o silêncio dos primeiros-ministros europeus, manteve uma guerra psicológica com Schuschnigg, o chanceler austríaco, até que a invasão (uma vanglória do lendário exército alemão, que escondia graves problemas técnicos) foi um facto. Esta narrativa revela os negócios e os vulgares interesses comuns que tornaram possível a ascensão do nazismo e o seu domínio na Europa até à Segunda Guerra Mundial, com as consequências que todos conhecemos. A Ordem do Dia descreve de forma trepidante e inovadora, em cenas memoráveis, os bastidores da ascensão de Hitler ao poder, numa lição de literatura, história e moral política.” Ao que se juntavam algumas breves recomendações de críticos literários franceses, como esta, por exemplo: “Abrir um livro de Éric Vuillard é, na realidade, ter a sensação de penetrar num género híbrido, em que se cruzam o canto, a história e a eloquência.”
Li “A Ordem do Dia” entre essa noite e a manhã seguinte. O que diz tudo, não obstante o facto objetivo de serem só 140 páginas. Porque se trata de uma obra notável e fascinante! E, se dela quisessem uma de muitas citações possíveis, iria por aqui a minha escolha: “Quando se soerguem os horríveis andrajos da História, é isso que se encontra: a hierarquia contra a igualdade e a ordem contra a liberdade”.
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