terça-feira, 1 de maio de 2018

OECD SKILLS STRATEGY PORTUGAL


(A relação do país com o pensamento da OCDE tem algo de esquizoide, umas vezes associando-o a um paradigma indesejável, outras parecendo seguir religiosamente as suas recomendações. Seja ou não porque o pensamento OCDE é ele próprio contraditório, talvez fosse mais sensato construir uma perspetiva de país e defendê-la contra generalizações de pacotilha.)

A convite da Secretaria de Estado do Emprego e do Ministro da Educação estarei na próxima sexta-feira, 4 de maio, no Teatro Thalia em Lisboa, numa sessão promovida pelo Governo para apresentação e discussão do trabalho Skills Strategy Portugal iniciado em 2015 e dando agora origem a um conjunto de recomendações centradas no ensino de adultos. Solicitam-me um comentário ao referido estudo, para um programa que hoje dia 1 de maio não estava ainda devidamente publicitado, o que não me deixa de espantar.

Curiosamente e pura coincidência, o professor David Justino, hoje vice-presidente do PSD, personalidade que prezo na sua qualidade de pensador da educação, independentemente do seu posicionamento político, considera provocatoriamente hoje no Público (link aqui) que a colagem do governo atual ao pensamento OCDE representa uma forma de regresso ao pensamento e orientação de Ana Benavente, em contradição com orientações do próprio Partido Socialista que se tinham distanciado das posições da sua militante.

Essa questão da colagem do governo ao pensamento OCDE em matéria de educação (e talvez também em matéria de investigação científica e ensino superior) fica para um outro post, já que merece autonomia de abordagem.

Para já interessa-me trabalhar as implicações que a abordagem da OCDE em termos de competências (skills) determina, tema que não tem sido suficientemente debatido em Portugal, dada a ligeireza com que o conceito de competência é regra geral tratado. Regra geral, está mais assimilada a utilização do conceito de competências no chamado ensino profissional (o VET – Vocational Education Training) e bastante menos a sua aplicação mais geral a todo o sistema educativo, básico, secundário e superior, universitário ou politécnico. No âmbito deste post, fica o registo da falta desse debate e aprofundamento, sendo escassa a reflexão sobre a diferença entre qualificações e competências, tendo presente que estas últimas são indissociáveis de um contexto de trabalho, o que por si só anuncia a controvérsia da sua utilização.

Na abordagem OCDE, aplicada obviamente a Portugal, destacam-se três níveis de análise, cuja interação é regra geral muito rica: (i) o desenvolvimento de competências da infância à idade adulta; (ii) a ativação dessas competências no mercado de trabalho; (iii) a eficaz utilização dessas competências na economia e na sociedade, que remete para as condições da sua absorção. As questões da governação e do financiamento completam o quadro proposto.

Se abstrairmos por agora da controvérsia sobre a abordagem das competências, este quadro analítico se corretamente aplicado é virtuoso. Por corretamente aplicado entendemos sobretudo a sua leitura dinâmica, designadamente a questão da interação entre aqueles três níveis de análise.

A estratégia proposta pela OCDE para Portugal não é propriamente um monumento de inovação e criatividade. A estratégia declina-se pelos níveis de análise atrás referidos.

Assim, no plano do desenvolvimento das competências, propõe-se (i) a melhoria da qualidade e equidade na educação); (ii) o reforço da adaptação do VET ao mercado de trabalho; (iii) a aposta nos cidadãos pouco escolarizados através da educação de adultos e a aprendizagem ao longo da vida. Em matéria de ativação da oferta de competências, propõe-se (iv) a redução do desemprego jovem e dos NEET, (v) a intensificação da reintegração de desempregados de longa duração e (vI) a redução dos obstáculos ao emprego. No plano da utilização eficaz de competências, propõe-se (vii) o empreendedorismo (também tu OCDE???), (viii) a promoção da inovação e do emprego altamente qualificado e (ix) a criação de incentivos aos empregadores para o envolvimento na formação de competências. Nas condições de governação e financiamento, destaco (x) o financiamento de um sistema de competências mais equitativo e eficaz, (xi) a adaptação às necessidades locais e (xii) a capacitação e a formação de parcerias para uma política de competências baseada na avaliação.

A estratégia proposta tem de tudo; o óbvio, algum “wishful thinking”, alguma intuição dos verdadeiros problemas, mas sobretudo por vezes insuficiente atenção às situações de partida e por conseguinte às estratégias de transição que é necessário implementar para se chegar aos fins pretendidos.

O retorno à educação de adultos como prioridade parece-me sensato e prioritário e por isso será o tema do meu próximo post.

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