(Tenho boas recordações de conversas e discussões com
amigos galegos, realizadas no quadro dos trabalhos de cooperação inter-regional
e transfronteiriça. Entre esses amigos,.o Professor Fernando González Laxe, que
foi presidente da Xunta de Galicia, teve sempre para mim o reconhecimento de
alguém que pensa muito bem. A sua mais recente crónica na Voz de
Galicia vai nessa linha, ajudando-nos a pensar a política na era da cultura
efémera do Facebook).
Já repetidas
vezes recordei neste espaço como foram para mim importantes (e ainda o são
apesar de passar por uma fase menos intensa) os trabalhos de cooperação em que
tenho participado com universitários e planeadores galegos. As intermináveis
charlas e discussões com Anxel Viña (Oficina de Planeamiento) e o saudoso e já
desaparecido Juan Dalda (Oficina e urbanista na Universidade da Corunha vêm-me à
cabeça. O contacto com quadros da Xunta de Galicia desde os trabalhos preparatórios
da cooperação Galiza-Norte de Portugal permitiu-me compreender por dentro a formação
de uma autonomia regional. A participação em conferências e seminários conduziu-me
ao conhecimento das universidades galegas e a gente com quem interagi em
diferentes trabalhos e oportunidades como Sequeiros Tizón na Universidade da
Corunha, Alberto Mejido de Santiago de Compostela, o próprio Emílio Pérez Touriño
que haveria de ser Presidente da Xunta num governo PSOE-Bloco Nacionalista
Galego que haveria de correr mal, Luiz Dominguez Castro da Universidade de Vigo
e diretor do Centro Jean Monnet daquela universidade, Xulio Pardellas da mesma
universidade de Vigo e tantos mais. E finalmente a dinâmica do próprio Eixo Atlântico
a cuja atividade e programação estou irremediavelmente ligado desde os tempos
de Fernando Gomes na Câmara do Porto, há já alguns anos sob a batuta do seu
Secretário Geral Xoan Mao, um dos mais combativos defensores da cooperação
transfronteiriça.
Foi no âmbito
dos trabalhos do Eixo que conheci Fernando González Laxe, um professor de economia
estrutural com a herança intelectual de Ramón Tamanes e especialista na
economia do Mar, já depois da sua passagem pela Presidência da Xunta de Galicia.
Não era difícil perceber a sensibilidade política de Laxe, numa linha que me
agradava de economia política, um estudioso da mudança estrutural de economias
periféricas como a galega. A sua crónica recente na Voz de Galicia trouxe-me
recordações da sua finura de pensamento, desta vez interessado nas consequências
e malefícios da efemeridade da cultura Facebook
sobre a ação política. O PSOE galego está neste momento esfrangalhado mostrando
que não soube capitalizar gente e pensamento como o de Laxe, numa incapacidade
de transição virtuosa entre gerações. Essa incapacidade atirou os mais
experientes e capazes para uma certa distância e cavou a precipitação dos mais
novos, ainda por cima estimulada pela instabilidade da direção política
nacional.
Laxe chama a
atenção para o vazio de conteúdos daquela cultura, em que a argumentação dá
lugar tragicamente ao domínio dos vocábulos, atomizados, que acionados dão a
ideia de um conhecimento dos temas que é de plástico ou de substância ainda
mais horrorosa.
Um
economista estrutural com sensibilidade política acabaria inevitavelmente por vir
a terreiro defender contra a cultura do efémero a virtude de conceitos como o
de cidadania e de direitos sociais. DE vez em quando, é necessário o regresso
aos “basics” e quando alguém consistente
como González Laxe o faz é sinal de que a esperança está viva apesar da experiência.
“Traduzido em termos políticos, o raciocínio pode ser
ampliado. Em primeiro lugar, existe uma crise de legitimidade dos projetos
ideológicos, devido à atomização das ideias comuns, propiciando a criação de
múltiplas agendas (uma para cada tema) com o que podemos perder a perspetiva e,
em segundo lugar, as elites políticas refugiaram-se nos seus mundos,
conseguindo que o grande conjunto da sociedade sinta que não é capaz nem de
controlar nem de desenhar o seu próprio destino. Perante este vazio, coberto de
maneira imediata pelos influenciadores e pelos agentes digitais, os que usam
tanto as práticas evangelizadoras como os defensores do novo populismo, podem fazer
sobressair os seus postulados, motivações e aspirações. Caminhamos, pois,
perante um mundo líquido, órfãos de princípios e de valores, sem mecanismos de
controlo ético.
Daí a necessidade de voltar a redescobrir as virtudes de conceitos como o
de cidadania e dos direitos sociais. Devemos evitar a crise de falta de
imaginação e de ambições cidadãs. Não nos devemos converter em aglutinadores de
uma coligação de elites.” (Voz de Galicia, excerto de Un proyecto político común - link aqui)
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