(Não é só no mercado de trabalho, mas também nele, que a
teoria económica necessita de uma forte varridela. Afinal, é tempo de em várias
dimensões a teoria se adaptar às novas realidades em vez de as camuflar. Esse
é o espírito do comentário de Noah Smith…)
Sim, sabemos
que por definição a teoria representa sempre uma simplificação da realidade, para
ser possível uma explicação lógica e simples dos fenómenos económicos. Mas nem
todos os pressupostos de simplificação que usamos nas nossas ferramentas
explicativas são justificáveis, pois assentam em simplificações que distorcem a
realidade. Por isso, há bons (e inevitáveis) e maus pressupostos. Os bons e inevitáveis
pressupostos permitirão com representações simplificadas explicar os factos
estilizados em que decompomos a realidade económica. Os maus pressupostos moldam
e distorcem, não simplificam, a realidade.
O mercado de
trabalho passa por transformações que o colocam a anos-luz da pseudo representação
desse mercado com que alguns ensinam economia básica e intermédia. Há uma evidência
dos tempos de hoje, a queda do peso dos salários no rendimento nacional e a
estagnação dos salários, do ponto de vista relativo face à evolução da produtividade,
que tem oculta uma outra realidade, disfarçada na economia de mainstream. A procura de trabalho está
hoje muito concentrada e nas principais economias avançadas estamos perto de
uma espécie de monopsónio, um monopólio de procura, ou pelo menos um oligopsónio.
Noah Smith
insurge-se contra este mal-amanhado disfarce (link aqui):
“Os autores de manuais e os professores devem responder alterando
o modelo de base dos mercados de trabalho que é ensinado em classe. Os
estudantes devem começar com um modelo de poder de mercado, no qual poucas
empresas fixam salários abaixo dos níveis encontrados num mercado competitivo,
a não ser que sejam impedidos de o fazer. Esse modelo é tão fácil de trabalhar
como o modelo tradicional de oferta e procura, mas adapta-se muito melhor aos
dados reais. Em qualquer disciplina científica, as teorias devem evoluir à
medida que nova evidência é acrescentada. Isso é válido não só para o que é
usado na investigação como o que é ensinado nas aulas. As evidências sobre os
mercados de trabalho evoluíram e as teorias dominantes precisam de mudar com os
tempos”.
Simples, mas
com tanta resistência para ser aplicado.
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