quarta-feira, 23 de maio de 2018

CLARIFICAÇÕES



(Depois de uma noite em luta com a minha fadiga fiscal preenchendo a declaração de IRS, que assusta por nela aparecermos totalmente monitorizados, e a preparar a participação no Conselho Científico do Centro de Relações Laborais para comentar o relatório sobre o emprego em 2017, pouco tempo para o blogue. Mesmo assim, tempo para assinalar a quase desapercebida clarificação política do CDS – PP de Cristas).

Pois começo a perceber as interrogações que o José Pacheco Pereira tem vindo a colocar aos desenvolvimentos inequívocos da plataforma informática da Autoridade Fiscal (vulgo Portal das Finanças). As declarações automáticas e as declarações praticamente pré-preenchidas constituem uma monitorização exaustiva da vida dos contribuintes, tudo está praticamente lá registado em termos de elementos necessários à declaração e ao seu preenchimento. Longe vão os tempos em que recaía sobre os contribuintes a necessidade de entregar ou dar conta da documentação relevante ao fisco. Para a esmagadora maioria dos cidadãos, está lá tudo registado e isso não deixa de assustar pelo grau de monitorização da nossa vida que tal desenvolvimento representa. No Expresso deste último fim de semana, Manuel Ferreira Leite insurgia-se contra determinadas práticas de alerta sobre as empresas que a Autoridade Fiscal pensa dirigir às empresas, mostrando que a vida das mesmas está ao alcance do olho clínico da mesma Autoridade que parece querer exorbitar das suas funções manipulando informação sem que esteja em causa o cumprimento rigoroso de uma obrigação fiscal.

Resultado, mesmo com as simplificações digitais, praticamente uma noite perdida em luta com a fadiga fiscal de todos os anos. Em simultâneo, a necessidade de preparar a apreciação do Relatório do Emprego de 2017 a discutir amanhã no Conselho Científico do Centro de Relações Laborais, que dá conta também na imprensa de hoje do Relatório da Contratação Coletiva, sistematizando dados que importa trazer para a discussão na concertação social. Logo, pouco tempo para as reflexões de blogue e sobretudo pouco tempo para as leituras que esta responsabilidade diária implica.

Numa aberta deste contexto consumidor do pouco tempo disponível, deu para registar uma clarificação que os ideólogos (talvez seja excessivo chamar isso a tais personalidades) Assunção Cristas e Nuno Melo trouxeram esta semana para as bandas do CDS–PP. Pois ao que foi possível ouvir, e face aos desenvolvimentos erráticos do PSD de Rio, o CDS confessa-se mais em linha com o PSD de Passos do que com o atual. O que não deixa de ser uma importante clarificação. Depois de uma falhada tentativa no último Congresso para demostrar que o partido não renegou a consciência social da costela democrata-cristã, eis que as coisas se clarificam e o os dirigentes mais representativos afirmam o óbvio, estão mais perto do PSD de Passos. Isso significa duas coisas. Primeiro, que numa próxima esquina, estarão a defender um projeto liberal extremo, varrendo a consciência social para as catacumbas da memória, por mais que isso custe (custará?) a António Lobo Xavier. Segundo, há que reconhecer que é estranho que tal propensão para o alinhamento com Passos não inspire à direita liberal mais ou menos representada no universo do Observador a confiança compatível com uma identificação de princípios.

Poderíamos estar num tempo de clarificação das orientações políticas em Portugal. O PS parecia no bom caminho. Pedro Nuno Santos tomou a iniciativa, personagens menores do ponto de vista do peso politico que hoje representam como Sérgio Sousa Pinto vieram também a terreiro retorquir e Francisco Assis mostra também que tem algo para dizer. Mas rapidamente as trapalhadas de Pedro Siza Vieira vêm suspender o movimento. Já não há pachorra para compreender tanta distração em termos de incompatibilidades, parecendo sugerir ou que a captação de personagens políticas está cada vez mais difícil ou que as distrações em termos de conflitos de interesses estão a enraizar-se. E lá se interromperam as clarificações.

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