(Depois de uma noite em luta com a minha fadiga fiscal
preenchendo a declaração de IRS, que assusta por nela aparecermos totalmente monitorizados,
e a preparar a participação no Conselho Científico do Centro de Relações
Laborais para comentar o relatório sobre o emprego em 2017, pouco
tempo para o blogue. Mesmo assim, tempo para assinalar a quase desapercebida
clarificação política do CDS – PP de Cristas).
Pois começo
a perceber as interrogações que o José Pacheco Pereira tem vindo a colocar aos
desenvolvimentos inequívocos da plataforma informática da Autoridade Fiscal
(vulgo Portal das Finanças). As declarações automáticas e as declarações praticamente
pré-preenchidas constituem uma monitorização exaustiva da vida dos
contribuintes, tudo está praticamente lá registado em termos de elementos
necessários à declaração e ao seu preenchimento. Longe vão os tempos em que
recaía sobre os contribuintes a necessidade de entregar ou dar conta da documentação
relevante ao fisco. Para a esmagadora maioria dos cidadãos, está lá tudo
registado e isso não deixa de assustar pelo grau de monitorização da nossa vida
que tal desenvolvimento representa. No Expresso deste último fim de semana,
Manuel Ferreira Leite insurgia-se contra determinadas práticas de alerta sobre
as empresas que a Autoridade Fiscal pensa dirigir às empresas, mostrando que a
vida das mesmas está ao alcance do olho clínico da mesma Autoridade que parece
querer exorbitar das suas funções manipulando informação sem que esteja em
causa o cumprimento rigoroso de uma obrigação fiscal.
Resultado,
mesmo com as simplificações digitais, praticamente uma noite perdida em luta
com a fadiga fiscal de todos os anos. Em simultâneo, a necessidade de preparar
a apreciação do Relatório do Emprego de 2017 a discutir amanhã no Conselho
Científico do Centro de Relações Laborais, que dá conta também na imprensa de
hoje do Relatório da Contratação Coletiva, sistematizando dados que importa
trazer para a discussão na concertação social. Logo, pouco tempo para as reflexões
de blogue e sobretudo pouco tempo para as leituras que esta responsabilidade diária
implica.
Numa aberta
deste contexto consumidor do pouco tempo disponível, deu para registar uma
clarificação que os ideólogos (talvez seja excessivo chamar isso a tais
personalidades) Assunção Cristas e Nuno Melo trouxeram esta semana para as
bandas do CDS–PP. Pois ao que foi possível ouvir, e face aos desenvolvimentos
erráticos do PSD de Rio, o CDS confessa-se mais em linha com o PSD de Passos do
que com o atual. O que não deixa de ser uma importante clarificação. Depois de
uma falhada tentativa no último Congresso para demostrar que o partido não
renegou a consciência social da costela democrata-cristã, eis que as coisas se
clarificam e o os dirigentes mais representativos afirmam o óbvio, estão mais
perto do PSD de Passos. Isso significa duas coisas. Primeiro, que numa próxima
esquina, estarão a defender um projeto liberal extremo, varrendo a consciência
social para as catacumbas da memória, por mais que isso custe (custará?) a António
Lobo Xavier. Segundo, há que reconhecer que é estranho que tal propensão para o
alinhamento com Passos não inspire à direita liberal mais ou menos representada
no universo do Observador a confiança compatível com uma identificação de princípios.
Poderíamos
estar num tempo de clarificação das orientações políticas em Portugal. O PS
parecia no bom caminho. Pedro Nuno Santos tomou a iniciativa, personagens menores
do ponto de vista do peso politico que hoje representam como Sérgio Sousa Pinto
vieram também a terreiro retorquir e Francisco Assis mostra também que tem algo
para dizer. Mas rapidamente as trapalhadas de Pedro Siza Vieira vêm suspender o
movimento. Já não há pachorra para compreender tanta distração em termos de
incompatibilidades, parecendo sugerir ou que a captação de personagens políticas
está cada vez mais difícil ou que as distrações em termos de conflitos de
interesses estão a enraizar-se. E lá se interromperam as clarificações.
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