(Ilustração de Eva Vásquez para o artigo de Savater no El País)
(Estou numa de registos de memória do Maio de 68 por
interpostas figuras representativas do pensamento ocidental. Enquanto
não revejo as de Maria Antónia Palla, “Revolução, Meu Amor – Maio de 68 um ano
depois”, agora republicadas, fico-me com a reflexão do incontornável Fernando
Savater, “El 68 visto a los 70” …)
Tenho um
enorme respeito e reverência pela obra e pelos escritos de Fernando Savater.
Para além de me ter acompanhado há já alguns anos em algumas abordagens fora da
caixa, a coragem do filósofo e escritor espanhol na sua luta pelo respeito dos
direitos democráticos dos que ousavam rebelar-se contra a tirania da ETA sempre
inspirou a minha simpatia por quem sofreu na pele as agruras de um projeto
falhado, por muito pintada de azul e cor-de-rosa que a extinção da ETA tenha
sido encenada. Na minha luta insana com a leitura em castelhano do PATRIA de
Fernando Aramburu, entre as personagens de Aramburu há uma que me faz recordar
a resistência de Savater. Txato é um pequeno empresário de um Pueblo basco que
é assassinado pela ETA por ter recusado o pagamento do tributo revolucionário,
às mãos do filho do seu melhor e quase único amigo do Pueblo, entretanto
ingressado na organização terrorista. Interrogamo-nos hoje quantos Txatos terão
sido assassinados em nome de uma pretensa legalidade revolucionária que não
acrescentou rigorosamente nada aos destinos e ao futuro do povo basco.
A abordagem
de Savater (link aqui) é relevante pois considera que as referências bibliográficas mais
marcantes sobre o movimento são obras relativamente marginais do ponto de vista
das recensões, nas quais inclui os escritos sobre a vida quotidiana de Henri Lefevre
e o Eros e Civilização de Marcuse. Nessa linha libertária do Maio de 68, Savater
escreve: “Para quem adquiriu a consciência política
individualista, hedonista e lúdica (também ingénua) naqueles dias, a melhor notícia
foi a de que se podia ser progressista sem cartão do partido comunista ou similares.
Hoje vejo que a vantagem que temos é que os que nunca foram comunistas não têm
agora de perder energias em confusões direitistas para provar que já não o somos.
Por certo, alguns tentam ridicularizar o progressismo dizendo que busca o paraíso
na terra. Isso é que é ridículo: o progressista sabe que nascemos rodeados de
males e que morreremos também rodeados de males, mas aspira a que os males do
final não sejam os mesmos ou piores do que os do início.”
Sempre fui
recetivo e sensível a essa tese libertária. Afinal ela é coerente com a tese
principal do artigo de Savater: “As agitações do 68
não transformaram o mundo, apenas foram o sintoma de que o mundo já tinha
mudado. Desobstruíram o rígido e o autoritário que travava uma mutação social,
tecnológica e económica de escala quase planetária”.
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