quarta-feira, 23 de maio de 2018

PERDEMOS WOLFE E ROTH


Há conjunturas terríveis assim! Conjunturas em que vemos desaparecer, uns atrás de outros, alguns dos “monstros” que ajudaram a moldar a substância daquilo que somos e o modo como estamos. Ainda mal refeito do anúncio da morte, dias atrás, de Tom Wolfe – “uma força única na escrita americana”, como escrevia a “The Economist”, o inovador cronista que narrou num estilo inesquecível “o seu ‘país selvagem, bizarro, imprevisível, barulhento e barroco’ numa torrente de prosa vivida” (o colossal “A Fogueira das Vaidades”, obviamente, mas também “Um Homem por Inteiro”, Hooking Up” ou “Eu Sou Charlotte Simmons”) –, eis que me deparo esta manhã com o fim de outro gigante da literatura moderna, o magistral Philip Roth, autor retirado desde 2012 após 31 obras inigualáveis na caraterização da sociedade americana do século XX (obviamente, a trilogia dos “Estados Unidos perdidos” – “A Pastoral Americana”, “Casei com um Comunista” e “A Mancha Humana” –, mas também “O Complexo de Portnoy”, “O Teatro de Sabbath”, “O Animal Moribundo”, “Indignação” ou “Os Factos”). Eu estou farto de saber que ficam os escritos e o pensamento fulgurante e sustentado que neles tão marcadamente foram deixando disseminado, mas não consigo mesmo evitar esta sensação tremenda de estar a ser lentamente amputado de muito do que me foi construindo...

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