quinta-feira, 17 de maio de 2018

UMA BELA METÁFORA NO DIA DAS LETRAS GALEGAS



(O dia 17 de maio, Dia das Letras Galegas, comemora a publicação dos Cantares Galegos de Rosalia de Castro em 1863. Tenho-o na memória pelo simples motivo de anteceder de um dia o meu aniversário. As comemorações de 2018 são dedicadas a Maria Victoria Moreno e esse facto constitui uma bela metáfora, que vai para além da perenidade do galego)

Ontem estive em Vigo em trabalho, aproveitando para calcorrear um pouco a Cidade, passar pelas livrarias, cada vez mais difíceis de encontrar e cirandar pelas esplanadas, antes e depois da reunião de trabalho. Nas esplanadas já se vivia o ambiente de um dia festivo, o seguinte, dedicado às Letras Galegas, através do qual a questão da língua emerge como o grande foco de identidade regional, afinal um dos raros domínios em que a Xunta vai marcando alguma posição, a meu ver debilitada na sua força de dinamização de toda uma Região.

O dia de hoje foi dedicado a Maria Victoria Moreno, da qual retenho uma frase simples que a Voz de Galicia resolveu trazer para a identificação de uma das mais fascinantes figuras do galego:

«Penso que a situación do galego non se pode ver con indiferenza. Se estou coa xente que amasa o meu pan e mais colle no mar os peixes da miña mesa, tamén quero falar con eles, falar a súa fala» (María Victoria Moreno).

A associação da escritora infantil e juvenil em galego à comemoração do Dia das Letras Galegas tem implícita este ano uma bela metáfora. María Victoria, desaparecida em 2005, na sua última residência de Pontevedra, era uma Estremenha de Cáceres, bem junto da fronteira portuguesa, que se converteu ao galego depois de passagens por Segóvia, Badajoz, Madrid, Barcelona acabou por residir cerca de 40 anos em terras galegas, convertendo-se definitivamente ao galego. A metáfora está no facto de, em tempos de etnicismo e supremacismo, Maria Victoria Moreno é alguém que abraça uma outra língua, a cultiva e valoriza, mostrando que os galegos a adotaram, acolheram e lhe dedicam o dia da sua língua e literatura.

Uma bela metáfora.

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