quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

OS PEIXES BRITÂNICOS ESTÃO MAIS FELIZES ...

 


(À medida que o tempo passa e a atividade económica prossegue melhor se compreende como o BREXIT não foi pensado pelos seus defensores, dos mais acérrimos aos mais brandos, a não ser como arma política. Entre outros assuntos, começa-se a perceber as razões das pescas terem sido um fator de conflito nas negociações com a União Europeia.)

            O discurso que Boris Johnson e o seu Governo assumiram para dentro com a consumação do acordo do BREXIT com a União Europeia mesmo sobre a linha do fim do ano passado entrou em desconformidade com o choque com a realidade observado com cerca de 20 dias passados após essa data.

Quando precipitou a dramatização das negociações, Johnson talvez não tenha antecipado que iria apanhar as canas no meio de uma acesa crise pandémica, em que a sociedade britânica está a ser fortemente vergastada com a difusão do vírus, a pressão exorbitante sobre o sistema de saúde e sobretudo as marcadas da letalidade. Por isso admito, que devido a esse contexto adverso ou simplesmente por desleixo e incompreensão das perturbações reais o BREXIT iria provocar aso britânicos.

Sabemos como uma decisão disparatada e temerária das autoridades francesas, presumidamente por questões sanitárias, gerou o caos em Dover provocando uma das mais gigantescas imobilizações de camiões de transporte de mercadorias de que há memória. Passado esse bloqueio, a situação serenou mas os testemunhos de transportadores e de exportadores-importadores confirmam que a adaptação às novas regras vai ser longa. Tudo isto, vejam bem, com um acordo que conseguiu evitar a guerra dos impostos aduaneiros e dos contingentes. Mas há toda uma série de formalidades administrativas na exportação e importação abrangendo países terceiros, que são obviamente diferentes dos que se observam no interior da União, para os quais os operadores transitários e as próprias empresas exportadoras e importadoras não estavam preparadas. Não é política é realidade do comércio internacional. Admito que o ajustamento poderá ser lento mas que acabará por acontecer. Mas nunca a situação será a mesma. O que o Reino Unido pode e deve exigir é o tratamento igual como país terceiro.

Há também notícias de saída da City londrina de quadros qualificados que, independentemente de acreditarem ou não nas promessas de Johnson de continuar a defender Londres como o grande centro financeiro ocidental, estão a equacionar novas perspetivas de trabalho seja em Paris, seja em Frankfurt, por exemplo. E como sabemos Johnson optou deliberadamente por deixar a matéria dos serviços fora do acordo com a União Europeia.

Mas onde o brado tem sido maior e as águas mais revoltas tem sido na área das pescas. O Reino Unido conseguiu recuperar 25% da quota comunitária de pesca em águas britânicas, através de um processo de transição progressiva. A pesca é um caso curioso pois teve no difícil acordo com a União Europeia um foco proporcionalmente mais elevado do que o seu peso no produto britânico, em parte também porque era um tema sensível para alguns dos países europeus, com a Espanha e a França no centro do problema.

Do lado britânico, a maior insatisfação vem, sem surpresas, dos pescadores escoceses, na prática mais uma acha para a fogueira animada pelo independentismo escocês. Um artigo do Guardian (link aqui) dá conta de perdas de cerca de um milhão de libras por dia, gerados não só por atrasos documentais de expedição, mas também de peixe que se deteriora irreversivelmente pela espera nos portos de expedição e de receção.

E, no meio desta bagunça, emergiu a voz ilustre do ministro Jacob Rees-Mogg que, acossado no Parlamento, teve para a história esta bela pérola, não sei se captada em águas britânicas: “O peixe é agora Britânico e por isso é um peixe melhor e mais feliz”.

Quais perdas, quais perturbações, quais promessas de modernização da pesca britânica com ajudas de 100 milhões de libras. Os Britânicos estão mais felizes e até os peixes o sentem, estando eles próprios mais felizes e prometendo menus gastronómicos de outro mundo. A ralé do Fish and Chips nunca perceberá o senhor Mogg.

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