(Parabéns ao João Lourenço Marques e ao Francisco Carballo Cruz pela coordenação da edição na Almedina de 30 anos de Ciência Regional em Perspetiva. Aproveito para aqui deixar os últimos parágrafos do capítulo que me coube elaborar.)
Ainda não senti nas mãos e no olhar o prazer insubstituível de folhear uma obra em que se participa, mas dá para perceber que se trata de uma edição cuidada como aliás a Almedina nos habituou (link aqui).
Quando participo neste tipo de antologias sobre a ciência regional em Portugal fico sempre com a sensação de que temos conhecimento suficiente para que a política pública de desenvolvimento regional e de coesão territorial pudesse ter resultados mais auspiciosos. Alguns (muito poucos) dos colaboradores desta obra coletiva já tiveram funções governativas, mas talvez em tempo demasiado curto para produzir resultados mais salientes. Conhecem a minha posição sobre esta matéria. O tempo de maturação das ideias em termos de decisão política é muito lento e sujeito a muitas interferências e descontinuidades.
Coube-me abordar o tema “POLÍTICAS DE INOVAÇÃO E COESÃO TERRITORIAL: O EQUILÍBRIO IMPOSSÍVEL OU NECESSÁRIO DA POLÍTICA REGIONAL DE NOVA GERAÇÃO”.
Ficam convosco os últimos parágrafos conclusivos do meu texto e contribuam para disseminar o pensamento da Associação Portuguesa do Desenvolvimento Regional (APDR) cuja história acompanha muito de perto a minha vida académica e profissional. Não vos digo o meu número de sócio pois é sinónimo de muita idade.
“Concluindo:
A emergência dos objetivos e dos instrumentos de política que lhe são típicos da competitividade na política regional não deve ser entendido como um takeover hostil da primeira sobre esta última, mas antes como uma consequência normal de um conjunto cruzado de tendências: a emergência da economia global (mundial) como quadro de referência dos projetos de desenvolvimento local e regional com as respetivas consequências em termos de posicionamento estratégico e competitivo; os resultados insatisfatórios da política regional essencialmente distributiva no plano espacial, majorados pela lenta emergência do conceito de justiça espacial; a evolução cognitiva observada sobre os processos de inovação, relacionando os seus determinantes empresariais, institucionais e territoriais e quebrando muros entre a economia do crescimento e a economia do território; o reconhecimento de que o equilíbrio (trade-off) entre eficiência e equidade tem no plano regional uma dimensão marcadamente política, influenciada pelo grau de tolerância existente na sociedade relativamente às desigualdades espaciais.
Já a emergência das políticas de inovação associadas a lógicas de S3 (Smart Specialisation Strategies) como elemento orientador das políticas de competitividade suscita novos problemas quanto à sua consideração como elementos de políticas de coesão territorial de nova geração. O artigo propõe um conjunto de princípios para enquadrar a aplicação de S3 em regiões com estádios incipientes de desenvolvimento, sobretudo a partir do reconhecimento que o mundo das S3 é do tipo rendimentos crescentes. A ideia de condições de compensação dos efeitos de desenvolvimento desigual que as S3 podem promover ou reproduzir pode implicar o adiamento do envio das políticas de coesão de velha geração para o museu da política regional."
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