quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O NAUFRÁGIO

(Andrés Rábago García, “El Roto”, http://elpais.com) 

Reconhecidamente, as disposições não são todas iguais no dia-a-dia da vida de cada um de nós. Por causas subjetivas e objetivas, endógenas e exógenas, privadas e públicas. Hoje, e não obstante a ocorrência de um momento bom em que revi dois bons amigos, predomina em mim a desagradável sensação do forçoso regresso a um confinamento que o Primeiro-Ministro associou a uma “dor coletiva”. Talvez também não tenha beneficiado da ajuda da leitura que mais me vem ocupando as chamadas “horas livres”, dado o grande impulso introspetivo que provem do magnífico romance da Prémio Nobel da Literatura polaca (Olga Tokarczuk) que é “Conduz o teu Arado sobre os Ossos dos Mortos”. Ora vejam só: “Estaquei naquela praça inclinada e fui dominada aos poucos por um forte sentimento de pertença à comunidade daqueles transeuntes. Cada um deles era meu irmão; cada uma delas era minha irmã. Éramos tão parecidos uns com os outros. Frágeis, transitórios, tão expostos à destruição. Andávamos por ali confiantes, sob um céu que não tinha nada de bom para nós.” No fundo, afinal, como aquelas atarefadas movimentações de formigas em constante correria com que frequentemente nos deparamos quando alguma ociosidade nos permite o necessário tempo de observação...

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