terça-feira, 5 de janeiro de 2021

JOÃO CUTILEIRO

Morte aos 83 anos de João Cutileiro (JC), um grande intelectual e um genial artista. A primeira vez que dele ouvi falar foi nos setentas do século passado, em Lagos, aquando de umas férias algarvias ainda de patrocínio paterno e perante a escultura de D. Sebastião que ali estranhamente surgira de um ano para o outro na Praça Gil Eanes. Quase duas décadas mais tarde, visitei-o no seu ateliê de Évora na companhia liderante de Miguel Cadilhe, então meu presidente na Espaço Atlântico do Grupo BPA e autor da ideia do convite a JC para a feitura de uma peça marcante que pudesse dignificar a entrada mais nobre do Edifício Heliântia que acabávamos de recuperar em Francelos; nunca esquecerei o desconcertante à-vontade, na indumentária e no modo de estar, com que acolheu aqueles “importantes” engravatados. Alguns anos mais tarde, estive na inauguração do estupidamente chamado “monumento do pirilau”, na verdade uma polémica mas bela obra de homenagem ao 25 de abril que paira sobre o Parque Eduardo VII. Depois, apenas dele fui sabendo através do que me chegava – e ia sendo bastante – da sua palavra independente e livre e da sua obra, onde imperaram o mármore e os corpos femininos. Aos poucos, tornaram-se visíveis as marcas do tempo e as suas implicações no trabalho de que nunca quis afastar-se, sempre procurando as melhores adaptações possíveis. E é isto, mais um daqueles desaparecimentos físicos que nos chocam e desgostam, ficando-nos a consolação de que ele continuará por aí no brilho da sua memória e do seu portentoso e espalhado legado artístico.

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