quinta-feira, 2 de setembro de 2021

ACÁCIO CATARINO


(Foi um post singelo mas sentido de Paulo Pedroso que me alertou para a morte de Acácio Catarino, alguém profundamente ligado à causa das políticas sociais e que deixou marcas indeléveis na afirmação dos instrumentos de política pública social e na animação e liderança de instituições incontornáveis como a Cáritas. É também uma oportunidade de reconhecer o papel decisivo que homens e mulheres ligados e dedicados aos movimentos católicos exerceram no avanço do nosso ainda incompleto Estado Social)

Tive poucos momentos de convívio direto com o pensamento e visão de Acácio Catarino, que se limitaram a algumas reuniões de trabalho no âmbito de estudos de avaliação de políticas públicas e alguns poucos encontros em mesas de sessões públicas centradas sobre temas sociais. Mas através desses contactos e do conhecimento de tomadas de posição ou artigos sobre políticas públicas sociais cedo compreendi a presença de um pensamento fortemente estruturado e uma forte sensibilidade aos problemas sociais e ao seu enraizamento na sociedade portuguesa.

Os que passaram ou entraram na compreensão dos problemas sociais e na formação dos Estados Sociais, por mais inacabados ou truncados que se apresentem, habituaram-se a reconhecer a importância dos movimentos e da militância social em todos os domínios para explicar os avanços dessas configurações possíveis do Estado Social. Porém, sem colocar em causa a influência e força da conflitualidade social para explicar esses avanços, há que reconhecer que a presença coerente e persistente de pessoas como o Acácio Catarino, seja na reflexão e ativismo de base, seja no conselho a decisores de política pública (como Paulo Pedroso o reconhece a propósito da constituição do Rendimento Mínimo Garantido), seja ainda na liderança de instituições com o alcance e projeção da Cáritas, desempenha um papel crucial nos rumos trajetórias por vezes não lineares como o nosso incompleto Estado Social se foi formando.

E à vontade para reconhecer, pois não integro esse universo, que a consciência social católica de pessoas como o Acácio Catarino acabou por desempenhar um papel ativo nos avanços desse modelo de política social. Essa consciência permitiu consensos entre gente de formações políticas muito diversas e representou um elo de convergência em muitas encruzilhadas da evolução do Estado Social em Portugal. O apagamento dessa consciência e prática nas formações da direita portuguesa tem efeitos devastadores, reduz a convergência e cria barricadas onde, para alguns assuntos nevrálgicos, deveriam existir pontes.

Com a sua morte é mais uma página da construção do Estado Social português e do nosso sistema de políticas sociais que fica reduzida à memória dos documentos. E um aliado que se perde na defesa intransigente dos padrões de decência na vida de todos e da justiça social como valor e cimento da coesão.

Sem comentários:

Enviar um comentário