sexta-feira, 24 de setembro de 2021

E O SECRETÁRIO DIAS, LÁ TEVE O SEU MOMENTO DE BRILHANTE NOTORIEDADE!

 


(Eurico Brilhante Dias, cooptado das hostes de Seguro por António Costa depois da luta acesa partidária e primárias abertas, tem tido um desempenho em matéria de política de internacionalização sem grande estrilho, mas sinceramente prefiro esse comportamento ao dos que governam para o número mediático sem qualquer pretensão de avaliar o desvio entre o que foi anunciado e o que foi concretizado. Teria feito bem em continuar assim e não se daria mal com tal estratégia. Mas perante um momento de possível notoriedade resolveu, sabe-se lá porquê, misturar imagem de Portugal, marca Made in Portugal e pandemia, estatelou-se ao comprido e pior do que isso sugeriu a todos que talvez valesse a pena revisitar as ideias bases que sustentam a promoção da imagem de Portugal no mundo, pois elas ameaçam não estar lá muito sólidas).

Tal como noutras políticas públicas, a política de internacionalização tem sido fortemente acionada à boleia dos Fundos Europeus, sobretudo o FEDER. Já desde o QREN 2007-2013, prolongado pelo PT 2020 e muito provavelmente continuada pela programação 2021-2027 finalmente em preparação. É a vertente da internacionalização económica que tem essencialmente vingado e sobretudo numa perspetiva “out”. Ou seja, têm sido apoiados uma multidão de projetos empresariais e de ações coletivas, que visam sobretudo robustecer o potencial de presença em mercados internacionais, reforçando funções de marketing, rede, comercialização e prospeção de novos mercados, desenvolvendo missões específicas. Esta dimensão tem-se sobreposto claramente à do favorecimento da chamada internacionalização “in”, destinada a estimular a transferência de tecnologia a partir do exterior e a dinamizar a atração de investimento direto estrangeiro estruturante e potenciador de dinâmicas de inovação endógenas.

Esta dimensão económica da internacionalização tem suplantado claramente, creio que por força do efeito Fundos Europeus e das suas linhas de prioridades para elegibilidade, a exploração de outros fatores poderosos de internacionalização, como por exemplo a defesa e promoção da língua portuguesa, a projeção da cultura portuguesa no exterior e o apoio sistemático à participação do país e dos seus agentes mais dinâmicos nas redes internacionais onde circula o conhecimento pioneiro.

Uma grande parte das exportações portuguesas teve durante largo tempo de suportar custos de uma má imagem global do país. Recordo-me dos tempos em que, por exemplo, o calçado se queixava amargamente de para a mesma qualidade de design e tecnológica não conseguir impor preços mais elevados pelo efeito penalizador que a imagem global do país imprimia aos mercados. A situação parece estar hoje globalmente mais positiva, não sei dizer exatamente se por melhoria da imagem global do país na sequência da recuperação da crise das dívidas soberanas, se pelo esforço estoico de qualificação da maioria das exportações nacionais. Sem grandes evidências de que a política global do País tenha ajudado em matéria de imagem de Portugal no mundo, arriscar-me-ia a dizer que foi o esforço persistente e estoico dos exportadores nacionais que acabou por ir produzindo nos mercados de escolha uma melhor imagem do País. Sei que esta avaliação é controversa, mas o que sei dizer é que fatores desvalorizadores de imagem internacional como os baixos salários, a desqualificação dos ativos mais velhos e uma má posição em termos de indicadores de corrupção não sofreram uma grande alteração.

Que o Secretário de Estado da Internacionalização esteja preocupado com o efeito global País, e sobretudo com os riscos desse efeito global penalizar ações de política de internacionalização mais micro, isso entendo. Que possa estar igualmente preocupado com a dificuldade de encontrar internamente recursos para promover não apenas a dimensão económica da internacionalização, isso também entendo.

Ora o que simplesmente é um disparate incompreensível é utilizar a pandemia para tentar marcar pontos nessa matéria.

Mas em meu entender a questão vai para além de um disparate gerado num momento comunicacional menos feliz. O que me parece é haver aqui muita precipitação e desnorte sobre o efeito global de País que se pretende veicular. As ações micro ou as ações coletivas de promoção da internacionalização no plano económico são menos controversas. Pode haver dúvidas em relação a alguns mercados, mas isso é uma questão menor. Quando se fala de imagem global do País seria bom que o Senhor Secretário de Estado da pasta e o Governo fossem mais explícitos na imagem que querem transmitir. É uma questão de transparência e envolve todos os cidadãos. Caso contrário, o Secretário de Estado continuará a ter momentos menos brilhantes.

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