terça-feira, 21 de setembro de 2021

AS ELEIÇÕES ALEMÃS, REMIX

Les bons esprits se rencontrent… Pelo menos algumas vezes, meu caro António Figueiredo! Ambos pensamos nas incógnitas alemãs que se nos vão deparar (com maior ou menor intensidade) a partir das eleições legislativas de Domingo. Eu recorri à poll of polls do “Politico”, a qual permite observar algumas impressivas evoluções das intenções eleitorais evidenciadas ao longo do tempo curto destes meses mais recentes (a CDU só não esteve à frente em maio, quando os Verdes irromperam nas sondagens — foi pena ter sido sol de pouca dura! —, e desde a segunda quinzena de agosto, quando o SPD ascendeu ao primeiro lugar muito em linha com a débâcle cristã-democrática na sequência das cheias que assolaram a Alemanha e da inapetência do candidato apresentado, que Merkel ainda tenta recuperar em desespero final de causa) ou do tempo relativamente mais longo dos últimos dois anos (destacando-se o crescimento da CDU após a emergência da pandemia e a estabilização da sua posição junto dos eleitores durante mais de um ano).



(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)

 

(Klaus Stuttman, http://www.tagesspiegel.de)


O veredito parece relativamente próximo de estar definido, apontando para uma vitória do SPD e uma mais provável coligação tripartida com os Verdes e os Liberais. Sendo que aqui, e volto à minha, o importante será saber o que as negociações constitutivas do governo (que serão longas e detalhadas, como sempre são) acabarão por fazer ressaltar em matéria de ocupação do posto essencial das Finanças (se os Verdes preferirem os Negócios Estrangeiros, como alguns vaticinam e a sua tradição tende a indicar, teremos uns indesejáveis “falcões” liberais a tratar da revisão do Pacto de Estabilidade na Europa!). Mas não se exclua de imediato a hipótese de alguns ganhos de última hora por parte da esquerda mais radical (embora não tanto como alguns dizem), os quais ainda poderiam conduzir a uma coligação inédita e totalmente diferenciada entre as três formações políticas mais próximas de opções ditas de esquerda.

 

Já em termos de estratégia económica as previsões são bastante controversa. Com efeito, os especialistas dividem-se quanto ao verdadeiro alcance das reorientações a acontecerem: uns defendem a ideia de que a Alemanha vai obrigatoriamente ter de mudar de vida e de modelo, fruto das diferentes escolhas do novo poder; outros entendem que pouco irá alterar-se relativamente a um país que prevalecerá economicamente estabilizado nas suas apostas principais. Uma matéria a revisitar em maior profundidade quando os dados da equação estiverem definitivamente lançados e o seu grau de expressão for mais bem conhecido.

 

Por ora, fico-me pela despedida de Angela Merkel, alguém que andou por aí durante dezasseis anos, neles tendo sido criticada até limites marcados pelo ódio e pelo desprezo (à esquerda, primeiro, e à direita, depois) e apreciada até limites marcados pelo amor e pela gratidão (nacionalmente, primeiro, e externamente, depois). No cômputo geral, haverá talvez um certo exagero em a considerar uma estadista consequente e europeisticamente determinada, ímpar portanto; mas sempre teremos que convir que deixou marcas importantes, não cometeu erros irrecuperáveis e foi senhora de um exercício do poder em que dominou algum equilíbrio em tempo de loucuras descontroladas e a que não faltaram valores de verticalidade e princípios éticos — já visão e estratégia... Bem, a História o dirá!


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