Les bons esprits se rencontrent… Pelo menos algumas vezes, meu caro António Figueiredo! Ambos pensamos nas incógnitas alemãs que se nos vão deparar (com maior ou menor intensidade) a partir das eleições legislativas de Domingo. Eu recorri à poll of polls do “Politico”, a qual permite observar algumas impressivas evoluções das intenções eleitorais evidenciadas ao longo do tempo curto destes meses mais recentes (a CDU só não esteve à frente em maio, quando os Verdes irromperam nas sondagens — foi pena ter sido sol de pouca dura! —, e desde a segunda quinzena de agosto, quando o SPD ascendeu ao primeiro lugar muito em linha com a débâcle cristã-democrática na sequência das cheias que assolaram a Alemanha e da inapetência do candidato apresentado, que Merkel ainda tenta recuperar em desespero final de causa) ou do tempo relativamente mais longo dos últimos dois anos (destacando-se o crescimento da CDU após a emergência da pandemia e a estabilização da sua posição junto dos eleitores durante mais de um ano).
O veredito parece relativamente próximo de estar definido, apontando para uma vitória do SPD e uma mais provável coligação tripartida com os Verdes e os Liberais. Sendo que aqui, e volto à minha, o importante será saber o que as negociações constitutivas do governo (que serão longas e detalhadas, como sempre são) acabarão por fazer ressaltar em matéria de ocupação do posto essencial das Finanças (se os Verdes preferirem os Negócios Estrangeiros, como alguns vaticinam e a sua tradição tende a indicar, teremos uns indesejáveis “falcões” liberais a tratar da revisão do Pacto de Estabilidade na Europa!). Mas não se exclua de imediato a hipótese de alguns ganhos de última hora por parte da esquerda mais radical (embora não tanto como alguns dizem), os quais ainda poderiam conduzir a uma coligação inédita e totalmente diferenciada entre as três formações políticas mais próximas de opções ditas de esquerda.
Já em termos de estratégia económica as previsões são bastante controversa. Com efeito, os especialistas dividem-se quanto ao verdadeiro alcance das reorientações a acontecerem: uns defendem a ideia de que a Alemanha vai obrigatoriamente ter de mudar de vida e de modelo, fruto das diferentes escolhas do novo poder; outros entendem que pouco irá alterar-se relativamente a um país que prevalecerá economicamente estabilizado nas suas apostas principais. Uma matéria a revisitar em maior profundidade quando os dados da equação estiverem definitivamente lançados e o seu grau de expressão for mais bem conhecido.
Por ora, fico-me pela despedida de Angela Merkel, alguém que andou por aí durante dezasseis anos, neles tendo sido criticada até limites marcados pelo ódio e pelo desprezo (à esquerda, primeiro, e à direita, depois) e apreciada até limites marcados pelo amor e pela gratidão (nacionalmente, primeiro, e externamente, depois). No cômputo geral, haverá talvez um certo exagero em a considerar uma estadista consequente e europeisticamente determinada, ímpar portanto; mas sempre teremos que convir que deixou marcas importantes, não cometeu erros irrecuperáveis e foi senhora de um exercício do poder em que dominou algum equilíbrio em tempo de loucuras descontroladas e a que não faltaram valores de verticalidade e princípios éticos — já visão e estratégia... Bem, a História o dirá!
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