sexta-feira, 10 de setembro de 2021

JORGE SAMPAIO

Há dias que a esperança se desvanecia perante uma saúde que se agravava. A morte de Jorge Sampaio, conhecida esta manhã, encerra um ciclo da política portuguesa dominado por dois homens tão excecionais e determinantes quanto o foram ele e Mário Soares. Não sou forte em epitáfios nem me cabe aqui escrever um, também porque eles não faltarão vindos de todos os lados, justos e sinceros ou apenas cumpridores de um calendário de oportunidade. Direi somente que viveu a atividade política com uma distinção diferenciadora, nunca desvalorizando princípios nem escondendo sentimentos e sempre forjando pontes. Direi ainda que nunca transigiu perante uma leitura estrita do dever que nada ou ninguém contornava (a nomeação de Santana Lopes foi disso o caso mais paradigmático, e certamente difícil). Direi finalmente que foi o único político português com quem contactei que invariavelmente revelava interesse genuíno pelos assuntos nacionais substantivos e pelo tratamento alternativo dos dossiês em que reconhecia competência ao interlocutor. E recordo comovidamente aquele episódio de Mértola, há quase vinte cinco anos, em que me deparei com o Presidente da República a dar a mão à minha filha mais nova (então com três anos) para lhe facilitar a subida de um pequeno degrau — coisa que ela registou para sempre, batizando-o carinhosamente de “Sampalhe”. Obrigado pelo exemplo e por tudo o resto, meu querido Jorge Sampaio!

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