(Só os pequeno países, carenciados de expressão e notoriedade, tendem a valorar com grau máximo o posicionamento dianteiro em rankings internacionais quaisquer que sejam as suas famílias. Eu próprio sou dos que não perco muito tempo com essa matéria. Mas, neste caso, dado sobretudo o contexto de expectativas que se formou em vários quadrantes de opinião, acho que devo registar o facto e sobre ele refletir, não para memória futura como costumo dizer, mas essencialmente pela dimensão do feito e do que ele poderia representar como guião de ação futura. Estou a referir-me à posição de dianteira mundial que Portugal ocupava há poucos dias no ranking da taxa de população totalmente vacinada.)
Estou a redigir o cabeçalho deste post e não posso deixar de lembrar-me de algumas palavras amargas sobre o que iria ser o processo de vacinação em Portugal. Não quero ser mauzinho, até porque quase sempre gosto do que a personalidade escreve pelo seu estilo aguerrido e abertura de espírito, mas recordo-me sobretudo das palavras de Clara Ferreira Alves, tal qual grande especialista em logística, referindo essencialmente que por tais razões a vacinação em Portugal iria ser uma tragédia e um fracasso. Claro que me poderia interrogar se essas palavras correspondiam então a uma séria avaliação das condições conhecidas ou se, pelo contrário, contava para isso a irascibilidade de Clara em tudo que possa apoucar de momento a gestão política de António Costa. Bem, não interessa agora a razão. O que me parecia na altura é que, tal como em outras situações, não se estava a avaliar devidamente a capacidade e resultados já revelados pelo sistema de vacinação em Portugal, claro que noutras vacinas e não com a extensão de cobertura como a da vacinação COVID. Aliás, continuo a pensar que a qualidade global do SNS em Portugal está francamente acima do nosso nível de desenvolvimento, o que não significa de modo nenhum ignorar o que está mal e sobretudo a necessidade de organizar melhor este sistema complexo que se formou, com a lenta mas sustentada subida da saúde privada (evolução assinalável dos seguros de saúde e influência de sistemas convencionados com alguma expressão como a ADSE ou o SAMS.
Mas a persistência com que os progressos na vacinação foram concretizados, até atingir a posição cimeira retratada no gráfico que abre este post, não pode ser deixar de ser considerada como um feito notável, não só organizativo mas sobretudo de resposta coordenada da população e das autoridades de saúde, com a mensagem serena e convicta do Vice-Almirante no topo da pirâmide. Face a esta resposta, foi possível isolar e atribuir o ínfimo significado que os lunáticos do negacionismo representam. Já agora estou curioso se as autoridades judiciais tratarão com a devida rapidez e consistência os insultos e perseguição a Ferro Rodrigues e mulher concretizados por uma célula de lunáticos raivosos.
Numa palavra e no meu entendimento, a proeza retratada no gráfico representa apenas uma coisa muito simples: organização pertinente para valorizar recursos existentes, com liderança.
E perante a força do indicador apetece perguntar se não é possível escalar este feito e projetá-lo para outros desígnios de cuja concretização o País continua fortemente carenciado?
Afinal, as lições do feito parecem claras, pelo menos na minha perspetiva de avaliador, mas sei bem que isto de explicitação de ensinamentos tem que se lhe diga e aprendizagem organizacional e coletiva é coisa que se pratica pouco cá pelo burgo.
A primeira lição parece-me óbvia: valorizar recursos e experiência já demonstrados em ação, não apenas em vitrina para observador mais ou menos intectualizado trabalhar. A segunda lição é também clara: conceber um modelo de organização (e de logística) adequado aos recursos identificados. A terceira poderá parecer menos óbvia mas teve um importante efeito no êxito da operação: corrigir atempadamente trajetórias em tempo útil e oportuno, como a ministra da Saúde percebeu ao substituir rapidamente Francisco Ramos o primeiro responsável pela Task Force da vacinação. A quarta e última: escolher bem a liderança e a coordenação, como o demonstrou a prática do Vice-Almirante.
Sobre esta última lição, poderemos, ironicamente, perguntar se toda a liderança e coordenação para este tipo de desígnios deve ter experiência de viver durante longo tempo no fundo do mar num submarino? Não direi tanto. Mas talvez fosse útil identificar bem que competências específicas e o modo como as utilizou o Vice-Almirante acumulou com a sua longa experiência de comandante de submarinos (a tão necessária aprendizagem, em contexto de que gosto tanto de falar). Aliás, não é difícil imaginar que alguns dos problemas enfrentados pelo Vice-Almirante na Task Force (insultos dos negacionistas e quebras da rede de frio, por exemplo) são “amendoins” face aos desafios enfrentados na profundidade dos oceanos. Por isso eu disse que os negacionistas escolheram mal o seu alvo e do respeitinho dos jornalistas nem falar.
Preparem-se e lancem-se os editais necessários para o escalamento deste feito, segundo a hierarquia de ensinamentos que o feito de estar em 1º lugar no mundo da vacinação completa nos trouxe.
E não digam que este blogue não faz propostas fora da caixa.
Nota complementar:
O meu filho Rui comentou pertinentemente o meu modelo de ensinamentos atrás referido acrescentando-lhe a importância da dimensão local, sobretudo na componente de municípios e de serviços de proteção civil. Totalmente de acordo. Mas acrescentaria que, ao contrário do observado em Espanha, em que as autonomias foram claramente um fator de perturbação pela ausência de regras claras de coordenação, no caso português a dimensão local acrescentou eficácia.
Posso aliás dizer que estou seguro que, após a pandemia e por efeito dela, não pensarei do mesmo a organização territorial do Estado. Tal como em outras dimensões, em que o regresso à "possível normalidade" não significa ignorar o abaantes.
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