Quem como eu tiver lido com algum detalhe a magistral obra de John Kay e Mervyn King (“Radical Uncertainty”), a que aqui necessariamente voltarei, saberá certamente a que me estou a referir. Ou seja, não se trata de uma qualquer preocupação com quem vencerá as nossas Autárquicas, com as negociações à esquerda do Orçamento ou com o futuro mais ou menos risonho de António Costa. Nem com o que ocorrerá na iminente Alemanha pós-Merkel, em termos de afluxo de refugiados à Europa ou quanto às formas mais ou menos imaginativas com que a União Europeia evidenciará a sua pequenez estratégica. Nem, ainda, sobre o rearranjo geo-militar americano em curso e as suas razões de fundo, a complexa mas firme ascensão chinesa à escala global ou os caminhos pós-pandémicos que emergirão. Afinal, “só” me estou a referir a questões de um foro bem mais filosófico em que simultaneamente prevalecem a nossa racionalidade, o nosso desconhecimento fundamental, a nossa experiência individual e coletiva, a dialética distintiva de risco e incerteza e um futuro sempre à espera. E não, não é complicado, trata-se apenas de uma decorrência da essencialidade de conseguirmos fugir à espuma dos dias em proveito de aquisições substantivas acerca do que verdadeiramente importa, daquilo que deve ficar de entre tanto que passa.
Sem comentários:
Enviar um comentário