(Não sei exatamente se é a primeira vez, acho que não é, que uma imagem de publicidade ocupa espaço neste blogue, tantos anos tem já esta minha indissociável ligação com este espaço modesto de reflexão, cuja criação foi decisiva para mitigar a tristeza algo depressiva provocada pelo abandono das minhas funções universitárias. Mas há imagens que me fascinam ao ponto de me apetecer escrever sobre elas. É o caso de toda a campanha concebida em torno da nova embaixadora da marca LONGINES, particularmente algumas das imagens mais belas que algum dia a publicidade ousou construir sobre o rosto de uma mulher. Bem sei que a perceção que construímos das imagens que nos fascinam é uma construção nossa, sugerida pelo talento de quem fotografa e amplificada pelas nossas fixações. Mas tudo isso adquire outra amplitude quando a personagem em foco é Kate Winslet).
Impõe-se desde já a explicitação de possíveis conflitos de interesses do ponto de vista do enviesamento que possa existir no que vou escrever. Kate Winslet é nos dias que correm, no meu entender, uma das mais profundas manifestações de identidade e personalidade femininas no cinema e na televisão contemporâneos. Bem sei que os mais puristas e também pessimistas me dirão que tudo é encenação, que a força identitária e de verdade que atribuímos a uma personagem somos nós que as concebemos a partir de uma representação figurada do real, neste caso da mulher e artista Kate Winslet. Dir-me-ão mesmo que a decisão imposta por Kate aos produtores e realizadores para não ocultar as “imperfeições” do seu corpo, designadamente nas filmagens de Mare of Easttown, faz parte dessa sedução construída, que tudo é encenação para nos fazer mergulhar nessa representação.
Mas o produto real daquilo em que toca aparece marcado por uma tal autenticidade que apetece dizer que se for encenação mergulhamos na mesma.
Tal como o aqui pioneiramente documentei, Mare of Easttown é das melhores coisas que tenho visto em televisão como forma de representação de uma comunidade no coração de uma América desesperada. A agente policial Mare ocupa toda aquela representação como se arcasse nos seus ombros com todos os problemas daquela comunidade, percebidas por ela através dos problemas da sua própria família. O prémio de interpretação atribuído a Kate Winslet (e também a Evan Peters como ator secundário) é uma curta recompensa pela qualidade da série limitada e se fosse júri teria valorado mais Mare of Easttown do que o Gambito de Dama, embora esta me tenha impressionado bastante.
Tenho lido tudo o que se me tem oferecido em termos de entrevistas e testemunhos de Kate Winslet e só tenho encontrado coerência, testemunhos inteligentes sobre o valor da cooperação entre mulheres e percebo que a experiência de contracenar com Kate seja difícil de esquecer, aliás como o revelam todos os seus companheiros de cena.
As imagens belíssimas que a LONGINES nos faz chegar nos jornais que folheámos ou nos écrans dos IPADS que se iluminam para nos facilitar a leitura consagram algo que resumi no título deste post, “quando a publicidade está para lá da beleza”.
Acho que está na altura de substituir (ou de acrescentar?) a bela fotografia de Frankie Avedon da Catherine Deneuve que me faz companhia no escritório de Matosinhos com uma imagem da Kate Winslet, pode ser da Longines não faz diferença.
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