quinta-feira, 30 de setembro de 2021

RENDEIRO, FABRICANTE E VENDEDOR DE RENDAS


Qual suspeito de alto coturno em filme policial, João Rendeiro fugiu à justiça! Se em épocas mais ou menos longínquas do meu passado profissional — num dia de há trinta e cinco anos (quando irrompeu pelo Gabinete de Estudos do BPA para apresentar o seu trabalho de doutoramento, realizado em Sussex e publicado pelo então Banco de Fomento Nacional), num outro dia de há trinta anos (quando comigo e mais alguns partilhou a Comissão Diretiva do acompanhamento do estudo de Michael Porter), ou em mais um dia de há vinte anos (quando dirigia o Banco Privado Português e me vinha apresentar algumas oportunidades “interessantes” de investimento para o “meu” FIEP) — mo tivessem prognosticado como realidade a acontecer, juraria que tal não seria possível por muitas e diversas ordens razoáveis de razão que agora não importará desenvolver.

 

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas e as suas esquinas acabam frequentemente por resultar mal dobradas, em função de circunstâncias nem sempre fáceis de identificar e qualificar em toda a sua extensão; claro que há sempre a considerar a essência que é o caráter de cada um, como também o próprio modo como cada qual consegue integrar com decência a ambição e a vaidade pessoal no seu corpo de princípios e linhas vermelhas.

 

E depois, tudo visto e considerado (Rendeiro no Belize a gozar a fortuna num fílmico happy end possível ou Rendeiro a braços com uma perseguição que o venha a conseguir deter e fazer regressar às origens, veremos!), há ainda a Justiça portuguesa, um reino em que a incompetência e a negligência parecem ser proporcionais à brutal dimensão dos processos que gera sem lograr conquistar a imprescindível confiança da maioria dos cidadãos porque, objetivamente, sem grande eficácia real.


(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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