Aqui se assinala respeitosamente a morte, aos 96 anos, do grande compositor grego Mikis Theodorakis (MT). Senhor de uma obra extremamentediversa em termos de géneros — sinfonias e música de câmara, óperas e tragédias gregas antigas, bandas sonoras cinematográficas (com manifesta saliência para o inesquecível “Zorba, o Grego” de 1964, interpretado por Anthony Quinn) e adaptações de poemas de autores reputados, música popular e hinos e similares (como o da Organização para a Libertação da Palestina ou a orquestração da cerimónia de abertura das Olimpíadas de Barcelona de 1992) —, MT foi também um notório e corajoso resistente e oposicionista às musculações do pós-guerra (ocupação italiana e alemã, guerra civil e ditadura militar) — invariavelmente alvo de repressões brutais (incluindo exílio em campo de “reeducação” e torturas, com efeitos sobre a sua saúde que perduraram para o resto da vida) e invariavelmente confrontado com dificuldades e proibições no sentido de lhe tolherem os movimentos e a ação. Não espanta, por isso, que algumas das suas obras se tenham transformado em componentes essenciais de manifestações de protesto, primeiro, e de comemoração do regresso da democracia, depois.
As intervenções cívicas de MT, que também viveu e estudou em Paris após ter formado a Escola de Música de Atenas (1950), foram permanentes e multifacetadas. Chegou a ser membro do parlamento pelo Partido Comunista Grego durante a maior parte da década de 1980 mas também serviu o governo conservador. Defendeu a causa palestiniana e opôs-se à guerra do Iraque, mas também questionou a solução encontrada para a disputa de nomes entre a Grécia e a Macedónia do Norte. Foi, como disse, o sensato primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, um “grego global” e “a melhor maneira de o homenagear é viver de acordo com essa mensagem [valorização da unidade do povo e da superação de divisões]”.
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