Indesculpável ― a pandemia não justifica tudo! ― que só hoje tenha encontrado algum tempo bruxelense para ir visitar a “Casa da História Europeia”, inaugurada há quase seis anos como um projeto especial do Parlamento Europeu em pleno Parc Léopold a escassas centenas de metros do edifício principal. A exposição permanente ocupa cinco andares, cada um dos quais dedicado a um grande tópico e sempre procurando uma ênfase eminentemente transnacional e um foco relativamente mais voltado para o passado recente e o presente do que para dimensões associadas à memória e à herança europeias (que mereceriam mais desenvolvimento mas ficam circunscritas a umas pinceladas no primeiro dos andares).
A qualidade do que foi visado e conseguido no quadro de um projeto difícil de concretizar a 27 países com histórias nacionais próprias e por vezes pouco consentâneas com partilhas integradoras, para além dos envolvimentos políticos diversos que se tentam fazer sentir, não são de molde a autorizar um criticismo mais do que indiciador de caminhos adicionais a explorar um dia. Ao que se soma o caráter inteiramente free do acesso ao museu, a presença diária de inúmeras escolas e visitantes externos e as explicações por via digital (além dos catálogos) em todas as línguas da União.
Para uma mais clara perceção do que está em presença, através de múltiplas peças (algumas originais) e de vários vídeos, fotografias, passatempos e outros objetos, eis algumas imagens e um resumo do índice expositivo nuclear:
1. A Definição da Europa
Redesenhar o Mapa da Europa
O Mito de Europa
A Memória e a Herança Europeias
2. Europa: uma Potência Mundial (1789-1914)
A Mudança Política
Mercados e Povos
Os Conceitos de Progresso e Superioridade
3. A Europa em Ruínas (1914-1945)
Primeira Guerra Mundial
Totalitarismo contra Democracia
Segunda Guerra Mundial
A Colheita da Destruição
4. A Reconstrução de um Continente Dividido (1945-década de 70)
A Reconstrução da Europa
A Guerra Fria
Marcos da Integração Europeia I
A Criação da Segurança Social
Memória da Shoah
5. Certezas Estilhaçadas (década de 70-atualidade)
O Fim do Boom
Marcos da Integração Europeia II
A Democratização na Europa Ocidental
O Comunismo sob Pressão
Redesenhar o Mapa da Europa
Marcos da Integração Europeia III
Uma Memória Europeia Partilhada e Dividida
Em suma, está ali uma realidade mesmo debaixo de tantos milhares de olhos que por ela passam a correr e frequentemente sem realizar o esforço do que já está transposto e o quanto o que está exposto e explicado pode constituir-se num contributo para o reforço de uma identidade europeia com raízes míticas e históricas mas que ainda tarda por ganhar as asas que se lhe deveriam impor. Aqui fica o meu apelo, caro leitor, para que da próxima vez que tiver de ir a Bruxelas tire uma hora (ou mais) e dê uma saltada ao dito Parque Léopold, que fica ao lado da Rua Wiertz (onde está o edifício-sede Paul-Henri Spaak) mas tem também entrada principal pela Belliard e outras portas; assim como para que, quando puder, leve também lá os seus descendentes, cidadãos de uma Europa que precisa deles e está mais do que nunca metida num atribulado processo de (re)construção.
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