Em Dia das Mentiras, nada como uma passagem pela estranha realidade da comunicação política em Portugal; a qual está à beira de atingir o seu grau zero, sendo que só não desce a níveis mais baixos em virtude do manifesto e crescente desinteresse dos cidadãos e da sua cada vez mais visível incultura na matéria; embora com consequências que obviamente muito inquietam.
Veja-se o caso de António Costa, a que recorro com alguma mágoa e com a má consciência de quem nele acreditou no seu momento zero e renovou tal crença aquando da constituição da improvável solução que foi a geringonça. O primeiro-ministro teve depois o azar de conseguir uma irrepetível maioria absoluta, à custa do desajeitanço posicional de Rui Rio, e assim de acabar por ficar refém do País (Marcelo não foi peco a traçar-lhe um impedimento europeu), obrigado a por cá se ir tendo de entreter sem grande convicção e interesse. Seguiu-se uma sucessão de opções inconcebíveis, que aliás teriam sido objeto de inveja por parte do Santana Lopes de tempos idos. Pelo meio, e não satisfeito com tudo isso, ainda atirou aquele “habituem-se” aos seus opositores políticos, na verdade também aos atónitos portugueses que observavam as tristes prestações com que os brindava.
Agora, e enquanto faz de um PRR centralista e sem estratégia o seu único trunfo (com Marcelo à perna em relação à execução, ou seja, ao lado do essencial), decidiu chamar os homens da comunicação (uma bateria deles ao que se vai sabendo) para o socorrerem perante sondagens desastrosas; aqueles escolheram-lhe dois dossiês de relançamento (a habitação e o IVA zero) e impuseram-lhe uma nova atitude para renovação de imagem. Mas a verdade é como o azeite e nem aqueles tópicos foram estudados com rigor e coerência, tendo mesmo evidenciado as manifestas contradições de discurso (dele e dos seus principais responsáveis) e agravado brechas importantes no eleitorado socialista ainda remanescente (ademais em forte perda) nem a sinceridade de um Costa humilde e arrependido consegue ressaltar das suas aparições públicas. Neste quadro ― com o PSD em hibernação, o Chega em alta, a Iniciativa Liberal sem Cotrim presa aos seus fantasmas ideológicos e a esquerda mais à esquerda sem dar quaisquer sinais de poder ressurgir ―, só podemos temer o pior para o campo da democracia e de uma consolidação desenvolvimentista do País.
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