sexta-feira, 28 de abril de 2023

AMÉRICA ENCALHADA

 

Joe Biden declarou-se esta semana (re)candidato à presidência dos Estados Unidos. Uma decisão esperada e talvez inevitável, dada a situação objetiva em presença. A saber, e nomeadamente: o provável e perigoso regresso de Trump ao palco central da política americana, agravado pelo estimado efeito de boomerang em proveito próprio proveniente das acusações que o atingem; a falta de notoriedade de que goza a vice-presidente Kamala Harris, que não logrou ganhar asas para a candidatura própria que alguns previam; a ausência de um candidato Democrata forte e consensual (apesar de haver um Kennedy à boca de cena); a aparência de uma garantia de estabilidade (num contexto de incerteza e crescente populismo) resultante das sondagens relativamente favoráveis (embora não entusiasmantes). Terá, pois, dominado em Biden o sentido de dever, responsabilidade e serviço que lhe é reconhecido, mais do que qualquer ambição substantiva de prosseguir no poder.

 

Dito isto, não deixa de ser igualmente verdade que teremos com Biden o candidato presidencial mais velho de todos os tempos, o que, e apesar das evidências de longevidade que vão imperando, não deixa de ser algo de relativamente preocupante. Sobretudo porque, e para além dos riscos pessoais e institucionais existentes perante um candidato que completará o seu mandato com 86 anos de idade, a situação é reveladora de uma incapacidade de renovação de um sistema político americano que assim se mostra amarrado a dois homens idosos e de algum modo fragilizados e a dois homens que serão exatamente os mesmos que se enfrentaram há quatro anos atrás. Acrescendo, ainda, que Trump é o perigo que se sabe e me dispenso de pintar com mais cores, estando o Partido Republicano maioritariamente capturado pela sua inconsequência e desonestidade demagógica (para não falar de um discurso de mentira e ameaça mundial), e que Biden parece ser, um pouco como foi Obama, uma promessa de mudança que, sendo real no que toca à essência das essências, nem consegue produzir uma dinâmica de mobilização na sociedade americana nem incute uma cada vez mais crucial imagem de energia e firmeza junto de aliados e/ou adversários internacionais. Realidades e sensações inescapáveis e nada descansativas quanto ao que aí poderá estar para vir.


(Stellina Chen, https://cartoonmovement.com)

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