(A passagem bem matinal pelas notícias on line trouxe-me este tema, que se integra numa das categorias temáticas mais frequentes das reflexões convocadas para este espaço. O jornalista César Casal da Voz de Galicia redigiu uma crónica em torno de um estudo publicado pelo Observatório Soledad ES, que funciona sob os auspícios da poderosa Fundación ONCE (1). De facto, o fenómeno do declínio ou inverno demográfico que atravessa com intensidade as sociedades ocidentais e se projeta também na Península Ibérica traz consigo um conjunto de temas conexos que vão muito além do simples envelhecimento, abrindo inúmeras inter-relações no campo económico, social, territorial, penetrando assim fundo na organização das sociedades. O tema da solidão não desejada integra-se nesse vasto campo de implicações, que se abate como uma ameaça potencial sobre as nossas cabeças, acompanhado de outras implicações que não controlámos, como a de por exemplo estar só, com ou sem saúde.
Ouvimos frequentemente pessoas avançar decididas com a expressão “mais vale só do que mal-acompanhado”, mas não imaginamos de todo o que pensariam as mesmas pessoas quando ficam presas na armadilha da solidão. Sou dos que digo frequentemente que não faria parte de um clube que me aceitasse como membro (a exceção é o SLB, mas este também é fonte de muita depressão), mas digo-o mais por homenagem ao Grouxo Marx do que propriamente por convicção profunda e nunca provei dessa bebida, talvez com a exceção de alguns anos de adolescência. Ser solitário ou experimentar solidão não desejada são coisas muito diferentes. A solidão não desejada resulta obviamente de um conjunto complexo de causas de organização social e familiar e tende a precipitar-se com o invólucro do envelhecimento, do aumento de probabilidade de contrair doença e com a larga diáspora familiar que a economia global trouxe.
O estudo do Observatório Soledad ES sob os auspícios da Fundación ONCE, tão conhecida em Espanha pelas Lotarias, algo de equivalente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, é sobretudo interessante porque relaciona a incidência da solidão indesejada com as várias gerações, dos “baby-boomers” de 1946 a meados dos anos 60, da geração X de 1966 a 1980, da geração Y ou Millenials nascidos depois de 1980 e a geração Z nascida de 1996 a 2010.
Não deixa de ser surpreendente que sejam os jovens entre os 16 e os 26 anos (gerações Z e Millenials) que se sentem mais sós. Tudo isto apesar das comunicações pessoais terem disparado.
O que parece estar a acontecer é uma profunda desestruturação da organização familiar, sem que seja percetíveis os rumos do que vai acontecer depois.
(1) https://www.fundaciononce.es/es/comunicacion/noticias/el-coste-de-la-soledad-no-deseada-ronda-los-14000-millones-de-euros-anuales
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