Eis o resultado de um impulso que me assaltou e se me impôs ao aceder à última página do “Público” de hoje. A afirmação subjacente à conversa ao balcão do bar, que está muito longe de ser original ou nova naquela ou em semelhante formulação, vale tanto pela sua crueza autocrítica como pela indesmentível verdade que carreia. De uma ou de outra forma, e dado que cada vez mais nos comportamos coletivamente dentro de uma lógica de no pasa nada ou nobody cares, achei que talvez valesse a pena continuar repetitivamente a insistir nesses desabafos do nosso descontentamento, até na expectativa (vã?) de que alguém responsável (individual ou de grupo) possa vir dar menores sinais de surdez e, consequentemente, se predispor a contribuir para a procura de formas conducentes a que alguma coisa se remedeie.
Claro que os 150 mil milhões fizeram “milagres” desenvolvimentistas em sede de atraso económico e social do País (comprovam-no as comparações de toda a ordem que se façam entre o Portugal de 1974 ou 1986 e o Portugal de hoje), pelo que aquilo a que se aponta é, obviamente, a uma disseminada habituação aos fundos (como se de um direito de cidadania se tratasse), à desfocagem dos agentes económicos e sociais em relação ao modo de utilização dos mesmos (impera a busca desesperada do dinheiro pelo dinheiro, follow the money e depois vê-se, e não uma definição de projetos estruturantes e nacional ou regionalmente relevantes para serem apoiados pelo seu potencial e mérito diferenciador), à viciada máquina do Estado (do novo-riquismo dos governantes nacionais e locais a uma burocracia infernal e cega e crescentemente alargada a toda uma miríade mais ou menos informal de entidades e consultores parasitas espalhados pelo território), a uma gestão dos fundos que vá para lá do cumprimento estrito ou contornado das obrigações comunitárias regulamentares e de um crescente estado de necessidade em relação a algum investimento que dantes era público (na Saúde, na Ciência, na Educação, na Formação e Qualificação Profissional, designadamente) e hoje provem significativamente de fonte europeia e assim alimenta uma dependência impensável e quase humilhante ou, por fim, à completa ausência de uma estratégia nacional que configure a vontade de novos caminhos de futuro (veja-se a indigência efetivamente transformadora do PRR e dos Acordos de Parceria, para já não falar das aparências e perversidades que um e outro desses instrumentos desesperadamente comportam).
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