sexta-feira, 7 de abril de 2023

AÉREOS PORTUGUESES

A comissão de inquérito parlamentar à TAP ainda está na sua fase inicial mas já teve os seus momentos picantes e, sobretudo, reveladores. Centro-me nos últimos dois dias, onde as presenças marcantes foram os longuíssimos interrogatórios protagonizados pela ainda CEO e pela até agora silenciosa Alexandra Reis.

As capas dos jornais do dia dizem quase tudo quanto é essencial. Por um lado, e abstraindo dos episódios lamentáveis da mudança do voo de Moçambique (onde foi alguém descobrir aquele inenarrável secretário de Estado?) ou do treino da bancada socialista à presidente francesa, a TAP confirma-se como “um retrato revelador da gestão do Estado” (veja-se, agora, a continuada indeterminação do valor da indemnização que a IGF considera que Alexandra Reis tem de devolver!) e “faz tremer Governo”, deixando “três ministros debaixo de fogo” (irá Marcelo acabar por se render à ideia de um “caso patológico” sem que haja uma alternativa minimamente consequente de governação?). 

(excertos de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

 

Por outro lado, e enquanto Christine se apresenta como um “bode expiatório” (por inexistência de motivos objetivos de justa causa para o seu despedimento e indesejado envolvimento em pressões e lutas políticas ― ou ainda iremos descobrir que as suas habilidades e pequenos abusos tinham afinal mais na carta?), dando ainda a conhecer uma inacreditável conversa tida com Medina (que, após louvar a sua fantástica gestão, lhe acabou por solicitar o favor da sua demissão por iniciativa própria), Alexandra mostra-se segura e competente (quase mesmo convincente) mas também não consegue disfarçar cabalmente quanto adora a sua ex-CEO e quanto é senhora de uma agenda preferencialmente orientada para ilibar o ministro das Finanças.


E é assim que a miséria política e moral não dá tréguas (arre, que o que é demais, é moléstia!), continuando fantasmagoricamente a pairar por aí em todo o seu horroroso esplendor e com a TAP ― qual lei de Murphy ― a não cessar de nos brindar com motivos sempre renovados sobre a justeza do papel que tão arduamente conquistou de estar transformada no maior ativo tóxico deste nosso desgovernado jardim.


(adaptado de Nuno Sampaio, https://expresso.pt)

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