As eleições nas democracias consolidadas da Europa têm habitualmente pouca história. Quer porque as mudanças de voto não trazem grandes mudanças de política, quer porque a forte distribuição de votos (e os sistemas eleitorais) obriga a governos significativamente assentes em coligações (quase sempre bastante alargadas e nem sempre as mais canónicas à luz das nossas menos maduras convenções sulistas). Não obstante, as eleições que hoje se disputam na Finlândia comportam alguns atrativos especiais e analiticamente desafiantes, a saber: trata-se de um país que acaba de aderir à NATO por razões de autodefesa, a primeira-ministra Sanna Marin é uma política encarada como controversa e dificilmente classificável (há opiniões para múltiplos gostos, sendo que nunca se apresentou a escrutínio enquanto líder, já que em 2019 ainda foi Antti Rinne o candidato do seu partido), a extrema-direita ameaça chegar ao poder (tendo há anos uma representatividade marcante e consolidada e tido uma fugaz passagem pelo governo centrista de Juha Sipilä, pelo qual também passou o nosso velho inimigo Olli Rehn, hoje governador do banco central), as grandes famílias políticas europeias têm pouca expressão na sua forma mais tradicional (sociais-democratas à parte) e raramente um partido consegue obter mais de um quinto dos votos registados.
Os estudos de opinião mostram claramente a dúvida maior: saber quem ficará em primeiro. A perspetiva dominante vai no sentido de poderem ser os conservadores do KOK (que estão fora do poder desde Alexander Stubb e Jyrki Katainen, entre 2011 e 2015), mas não são de excluir vitórias dos Finns ou dos Social-Democratas. Entretanto, parece adquirida a perda de influência do Partido do Centro, que liderou o governo em doze anos deste século. Assim como parece relativamente estabelecida a presença dos Verdes e da Aliança de Esquerda, que assim muito contribuem para dar força a uma continuada solução com marca de esquerda. Bem abaixo dos 5% prosseguirão o Partido do Povo Sueco, os Democratas-Cristãos e os Liberais.
Conseguirá a jovem Sanna (37 anos) ― na foto acima em debate recente com a líder dos Finns, Riikka Purra ― lograr por parte dos seus concidadãos a concretização da sua popularidade interna e a validação da forma como ajudou a controlar a pandemia e como dirigiu o processo de adesão do país à NATO? Ou prevalecerão as dúvidas sobre festas e drogas que os seus detratores conseguiram pôr de pé, apesar dos seus revoltados protestos e das conclusões da Justiça quanto ao seu não incumprimento de deveres fundamentais? E, já agora, continuarão as mulheres a ser largamente maioritárias na atualidade política finlandesa (sete comandam nove dos partidos mais representativos e a coligação governamental contempla cinco formações com cinco mulheres ao comando) ou será o macho e conservador Petteri Orpo a obter a indigitação para primeiro-ministro? Breve saberemos...
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