Não estou certo de estar certo se disser que ontem tivemos pela primeira vez o jornalista e meio-irmão do primeiro-ministro, Ricardo Costa, a comentar de forma direta a atuação de António Costa, no caso a propósito do estranho tema do anunciado aumento das pensões. Ricardo esteve cauteloso e evitou technicalities mas não se coibiu de enunciar as contradições do referido anúncio por confronto com as declarações de António em setembro ― como titula o “Público” de hoje, na mesma linha: “Governo compensa perda dos pensionistas oito meses depois”. Foi um momento curioso e talvez nada mais do que isso.
Em sentido oposto ia o editorial de Manuel Carvalho nesse mesmo “Público” ao inventariar aquilo que designou por “um breve compêndio dos anúncios do Governo este mês” e ao associá-lo a “um Governo em campanha eleitoral” e a um “arraial de redistribuição”. Palavras duras, por muito que o diretor fosse dizendo que “não há problema algum com esta ofensiva política”. Sobretudo por acrescentar de modo tão explícito quanto verdadeiro: “a não ser a sensação de que se faz, mais uma vez, o mais fácil e se subalternizam as causas profundas que amarram o país à causa da Europa”.
Carvalho veio deste modo ao encontro do tema dominante junto de analistas e comentadores, o de saber se Costa já morreu e ainda não sabe ou se Costa ainda vai ter o engenho necessário para retomar a iniciativa e recuperar uma posição confortável junto dos portugueses. O que se liga umbilicalmente com o que estará a passar pela cabeça de um Marcelo algo indecifrável e altamente volúvel, i.e., se o presidente tentará tudo para promover uma dissolução e tentar trazer o seu PSD ao poder ou se vingará um lado medroso que o limitará aos jogos florais habituais e inconsequentes. Pela parte que me toca, considero do que vou vendo, ouvindo e lendo que não estão ao meu alcance suficientes dados para que possa opinar em consciência, apenas intuindo que nem António Costa parece em condições de dar muito mais (e sobretudo de ter rasgo para fazer diferente), refugiando-se assim no marketing político convencional e em aparições mediáticas corriqueiras e já praticamente inaudíveis, nem a maioria dos portugueses parece em condições de querer voltar a votar num PS que desbaratou incompreensivelmente o capital de confiança democrática que ainda lhe restava. Mas como o dinheiro parece abundar de várias procedências europeias e inflacionistas e como os cidadãos nacionais cada vez mais só se mobilizam pelo mero cheiro do vil metal (whatever for), tudo pode acontecer e o seu contrário...
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