segunda-feira, 17 de abril de 2023

ARRIMADAS SE VA A JEREZ DE LA FRONTERA

 


(Talvez com excessiva ambição, sempre procurei que este blogue constituísse também uma espécie de observatório expedito da situação política em Espanha, com destaque para o que penso ser um dos seus traços distintivos mais importantes, a força das mulheres que povoam a sua conflitualidade e não tenho dúvidas de que as mulheres protagonizam melhor essa conflitualidade. Basta citar os nomes de Yolanda Diáz, Irene Montero, Isabel Diaz Ayuso, Yone Belarra, Isabel Calviño, a sempre saudosa e irrepetível Carmén Chacón e a figura que escolho para hoje Inés Arrimadas.



É surpreendente a dificuldade que teríamos em identificar no plano político masculino figuras políticas equivalentes em termos de relevo aos nomes que apresentei nesta introdução. Isso não será seguramente por acaso. A explicação é simples, a emoção com que assumem a conflitualidade não é a mesma e, se a política precisa de razão, nos tempos que correm o pathos gerado com personalidades deste calibre é crucial, em meu entender, para manter a sedução da política junto dos cidadãos, fartos de cinzentismo. Como eu gostaria que na cena política portuguesa houvesse personagens desta natureza. Algumas prometeram (a entrevista de Ana Benavente ao Público merece atenção futura), a Ana Gomes tem mantido o seu perfil combativo, mas o panorama está infelizmente cheio de personalidades que tentam fazer política por vias travessas e sinuosas como a inenarrável Ana Rita Cavaco, bastonária da Ordem dos Enfermeiros, ainda?, ontem magnificamente zurzida por Ricardo Araújo Pereira a propósito do seu vídeo que é uma montanha de esfregamento kitch do melhor com o deputado Luís Gomes. Neste pobre panorama, curvo-me perante Isabel Moreira, Alexandra Leitão e as manas Mortágua.

Regressando à Espanha política, a ascensão e queda brutal do CIUDADANOS em Espanha é um fenómeno que identifica bem a efemeridade vertiginosa com que a política é hoje praticada. Essa efemeridade abateu-se sobre o que sempre considerei poder ser uma das mais vibrantes políticas espanholas, Inés Arrimadas, que viu o seu partido desmoronar-se até praticamente à sua irrelevância, trucidada pela outra força da natureza do PP que é Ayuso. Com o seu colega Rivera partido seguramente para uma atividade profissional provavelmente sob o manto protetor da OPUS, Inés tentou por todas as vias suster a derrocada, envolvendo no processo alguns políticos do sexo masculino, mas sem êxito. Arrimadas nunca se recompôs da de cisão de precipitar a queda da maioria em Múrcia, que Ayuso rapidamente aproveitou para dar ordem de despejo ao CIUDADANOS na coligação de Madrid, suscitar eleições e fazer mergulhar a formação que havia ganho (espanto!) eleições na Catalunha.

Estamos em época de regresso de grandes mulheres da política ao conforto da sua intimidade. Foi assim com Jacinta Ardern na Nova Zelândia, não sabemos se será assim com Sanna Marin na Finlândia e agora é Inés Arrimadas. Embora mantendo-se fiel ao CIUDADANOS em busca de um milagre que não acontecerá, Inés regressou à sua terra natal em Jerez de la Frontera ("Hoy me voy a Jerez por el presente de los niños y me quedo en Ciudadanos por el futuro", dizia ela no El Mundo. A fotografia que o Jornal escolheu para assinalar a notícia-reportagem é um monumento simbólico. A mala não é seguramente de cartão, mas revela isso sim uma grande dignidade numa decisão que não sabemos se interrompe precocemente uma carreira política promissora que faria bem a Espanha ou se, pelo contrário, é apenas uma trégua pela família, marido e filhos.

Para mim a política é isto e não tenho dúvidas de que com mulheres deste gabarito seria mais fácil com ela nos identificarmos.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário