terça-feira, 25 de abril de 2023

TALVEZ A HISTÓRIA DA ECONOMIA AMERICANA NÃO SEJA A QUE O ECONOMIST PRETENDE CONTAR

 


(O Economist (1) publicou a 15 de abril um número dedicado à pujança da economia americana, que se compreende num período em que as derivas do populismo nacionalista têm seriamente abalado os princípios do mercado livre, fustigando a sua maior e acabada expressão que a globalização é. Por isso, dada a dinâmica da economia americana, a revista, na curiosa expressão de Bradford DeLong, “mantém a fé e faz as suas orações, ainda que nada e ninguém esteja a ouvir”. A verdade é que, embora por vias diversas e com resultados francamente mais positivos para Biden, ele e Trump têm afirmado as vias do protecionismo, parecendo por essa via contrariar a fé neoliberal da prestigiada revista.

Sabemos que a fanfarronice de Trump prometeu para a economia americana o seu MAGA – Make America Great Again, inventando derivas protecionistas que borregaram completamente, dada a inconsistência da sua formulação, pois foram acompanhadas do canto da sereia da descida de impostos, obviamente para os mais ricos. Mas o Inflation Reduction Act de Biden é uma coisa mais séria, talvez com um excesso de objetivos para os instrumentos disponíveis, o que geralmente dá para o torto, mas que do ponto de vista de transformar a economia americana em algo mais verde constitui uma iniciativa de largo alcance.

Das inúmeras reações que o referido número do Economist suscitou, interessa-me aqui destacar a sábia opinião de Bradford DeLong. De Long é um dos grandes estudiosos da economia americana, sobretudo depois de 1870, e tem toda a razão quando refere que a interpretação que o Economist faz da história americana não corresponde a esse modelo ideal do neoliberalismo.

O excerto que reproduzo de seguida é um tiro certeiro na correção dessa viciada interpretação:

“(…) É neste ponto que a leitura errada da história económica americana do Economist interessa. A tradição económica americana é do tipo Hamilton-Lincoln-Roosevelt (Teddy)-Roosevelt (Franklin)-Eisenhower, que entenderam quer a necessidade de um estado desenvolvimentista quer os riscos desse estado poder degenerar no sentido rentista. É verdade que a Era de Eisenhower tem hoje setenta anos e que muita da capacidade estatal americana foi esvaziada na longa era neoliberal que começou com Reagan. Mas do outro lado da escala está o facto de que o quadro da política de laissez-faire que era inadequada para o modo de produção económica em massa dos anos 50 é ainda menos inadequado para a economia em modo de produção bio e de tecnologias de informação em que nos encontramos atualmente. Os americanos precisam de não rejeitar mas tornar bem-sucedida a sua política industrial nesta década de 2020. Desta vez, realmente. Não Há Alternativa”.

Esta interpretação é sobretudo crucial para que ao nível da União Europeia não se ignore o alcance do Inflation Reduction Act. E sobretudo importante para que os diretórios da ortodoxia liberal que circulam pelos corredores de Bruxelas sejam colocados no seu devido lugar, frustrando a sua tentativa de retomar lugares e proeminência de decisão. Com a economia americana a evoluir na direção que DeLong identifica, o regresso da ortodoxia liberal aos centros de decisão da União Europeia significaria um colapso inevitável.

(1) https://www.economist.com/weeklyedition/2023-04-15

 

Sem comentários:

Enviar um comentário